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Foto do escritorYoga PuroPrana

Vishnu Daśāvatāra, os dez avatares de Vishnu

Atualizado: 17 de mai. de 2023



Brahma (deus hindu da criação do mundo), Vishnu (deus hindu da conservação e sustentação do mundo) e Shiva (deus hindu da destruição, daquilo que não é mais necessário), são considerados a Trindade Hindu - Trimurti.


Dos três principais deuses do panteão hindu, Vishnu é o responsável por manter a ordem no universo, preservando e dando continuidade à vida. Entre as suas qualidades, é considerado bondoso, onisciente, vigoroso e forte. É também conhecido pela energia, pelo esplendor e pela soberania. Ele simboliza a misericórdia e a bondade.


A principal qualidade e missão de Vishnu é proteger a humanidade de todas as forças que ameaçam a vida na Terra, por meio de suas encarnações na forma de avatares, que são encarnações divinas.


A preocupação com a manutenção da ordem e da vida terrena remonta aos primórdios do hinduísmo, cuja história se cruza e se perde no tempo com o período Védico. Durante o apogeu desta civilização, cerca de 4500 a.C., o "(...) sentido profundo da oração védica era precisamente o de manter a ordem, velar sobre o curso normal dos fenómenos da Natureza, de maneira que, inspirando-se nestes modelos, o processo ritual pudesse garantir ao Homem a perenidade." [i]


Na perspectiva espiritual do ser humano, o deus hindu Vishnu tem a importância de representar a energia e a luz interior. Ou seja, valorizar tudo aquilo que pode colaborar para a manutenção da força e preservação da vida de cada um.


Os Yugas


Antes de conhecermos os Deshavataras de Vishnu, é importante perceber como a tradição hindu, cuja origem remonta à civilização védica, entende a passagem do tempo, pois as encarnações de Visnhu aconteceram por dez vezes, em dez momentos críticos na história da Humanidade.


Contrariamente à perspectiva ocidental, fundamentada em pressupostos científicos, a visão hindu acerca da origem da vida e da evolução humana é descrita como a de uma queda ou involução ao longo de quatro eras designadas de Yugas. Nesta perspectiva, a evolução histórica da vida na terra começa com humanos detentores de características dos deuses, corpos feitos de luz, sem necessidade de sustento e longas vidas.


Cada Yuga marca, assim, um período em declínio na evolução humana, até aos dias de hoje, mas também um período de ascenção, após a era negra de Kali Yuga.


Primeiramente veio a era dos preceitos perfeitos Satya Yuga (também conhecida como Krita Yuga) a “idade de ouro”, no decorrer da qual tudo era perfeito e os humanos tinham atributos divinos. Não havia crime nem necessidade de comida, e a expectativa da vida humana era de milhares de anos. Os seres humanos praticavam naturalmente o Dharma (o propósito de vida) e não se envolviam em nenhum acto imoral.


Depois, veio a era de manter três preceitos (Treta yuga), a era na qual ocorreu o primeiro acto imoral no mundo, durante a qual já não era possível todos os preceitos.


Quando os dois tipos de acções não virtuosas surgiram, foi a era de manter dois preceitos (Dwapara Yuga), onde os homens progressivamente se tornaram menos parecidos com os deuses e a vida foi encurtada.


Quando todos os tipos de actos imorais não virtuosos surgiram, iniciou-se a chamada era do conflito (Kali Yuga), da degeneração, durante a qual a vida humana foi reduzida para cem anos, no máximo. Esta é a nossa era, que é caracterizada principalmente por discórdia e conflito. É também chamada a época da disseminação das “cinco degenerações”[i] e é considerada uma época inferior.


Cada avatar de Visnhu tem o propósito de erradicar as forças do mal e restaurar o Dharma (a ordem e a vida na terra), ameaçada em determinados momentos ao longo do tempo, por diversos motivos: catástrofes naturais, guerras, repressão e domínio, lutas de poder, etc.



Os avatares de Vishnu


A lenda dos avatares de Vishnu é, então e na sua grande essência, um dos maiores pilares do Hinduísmo. Eles referem-se às formas que esse deus foi adoptando sucessivamente, cada vez que deixou o Vaikuntha, o seu reino celestial, para vir ao nosso mundo. As encarnações abarcam precisamente a totalidade do tempo do Universo, que se denomina de Yugas. O período que abarca o início do Universo é o KritaYuga, época da justiça quando os homens eram igualmente bons e cheios de virtude. Os períodos que se seguem, são o Treta Yuga, DvaparaYuga e Kali Yuga. Ao longo deste tempo, Vishnu foi chamado a intervir para reestabelecer a ordem na terra por meio de dez encarnações, ou avatares: Matsya, Kurma, Varaha, Narasimbha, Vamana, Parashurama, Rama, Krishna, Bhuda e Kalki).


No primeiro Yuga, Vishnu surge nas quatro primeiras encarnações, ganhando a forma de peixe, tartaruga, javali e homem-leão.


O segundo Yuga apresenta o deus de uma forma poderosa, com um estilo novo e nobre, sendo os mais conhecidos Krishna e Buda.


A décima encarnação termina com a Idade Negra (Kali Yuga), em que o deus aparece sob a forma de um guerreiro num cavalo branco, Kalki, que atravessou todo o Universo para castigar os homens.


Na obra Vishnu Purana [iii], de altura e composição desconhecidas, constam as dez figuras encarnadas por Vishnu e os seus respectivos eventos essenciais, aqui também retratadas na imagem abaixo:



#1 Matsya

[iii] Quando os objectos dos três mundos foram destruídos pela água da devastação, e os Vedas (livros sagrados) foram perdidos, apareceste sob a forma de Matsya, o peixe, para proteger os princípios religiosos que tinhas estabelecido anteriormente.


Matsya é o seu primeiro avatar. Representa o primeiro peixe da Terra, responsável pela criação dos animais aquáticos. É o início da vida na Terra.



#2 Kurma

[iii] Quando os deuses e os demónios aceitaram cooperar para bater o oceano de leite, com o propósito de obter o néctar, usaram o [lendário] Monte Mandara como um pau para o bater, mas foram incapazes de suportar o seu peso. Na altura aceitaste a forma de Kurma, [a tartaruga,] e suportaste esse monte nas tuas costas. Assumiste essa forma para que os semideuses pudessem beber o néctar da imortalidade.


O segundo avatar. É a tartaruga cósmica e representa o momento em que a vida começou a sair do meio aquático e passou a existir também no meio terrestre.

Vishnu, quando surge metaforizado em tartaruga, sustém o Universo no dorso.



#3 Varaha

[iii] Quando os demónios derrotaram Indra, o rei do céu, e o poderoso demónio Hiryanyaksha estava prestes a matá-lo, somente para derrotar esse rei dos demónios e salvar a terra assumiste a forma de Varaha, o javali.


O terceiro avatar, representado pelo homem-javali, traz qualidades de grandeza e bravura.













#4 Narasimha

[iii] Quando o extremamente poderoso Hiranyakashipu, que tinha conquistado os três mundos, começou a atormentar os semideuses, fazendo-os viver em constante medo, para os protegeres decidiste aniquilar este rei dos demónios. Devido à influência dos poderes de Brahma [i.e. o deus-criador], este demónio não podia ser morto por qualquer homem, deus ou semideus; com qualquer arma; nos planetas ou na terra; durante o dia ou a noite. Então, assumiste a forma do ser meio-homem, meio-leão, Narasimha, para não transgredir a promessa do deus-criador. Quando o demónio se preparava para te morder, abriste-lhe o peito com as tuas garras e assim o enviaste para o reino dos mortos.


O quarto avatar mostra uma evolução maior na preservação e continuidade do funcionamento do universo. Esse avatar é metade homem e metade leão, tendo já certa racionalidade, mas ainda com seu instinto selvagem.


#5 Vamana

[iii] Apareceste como o irmão mais novo de Indra, assumindo a forma do anão Vamana, e foste à arena sacrificial do Rei Bali para o enganar. Apenas lhe pediste a caridade de três passos de terra. Ele aceitou, mas falhou ao cumprir a sua promessa, porque assumiste uma forma gigantesca e cobriste todo o universo com apenas dois passos.


O quinto avatar é um anão divino. É a primeira vez que perde a forma animal e fica somente como humano.


#6 Parashurama

[iii] Quando os reis da terra se sentiram demasiado orgulhosos e abandonaram os princípios religiosos, encarnaste como Parasurama para os aniquilar. Nessa encaranção, ficaste igualmente enraivecido pelo roubo da vaca, destruindo a casta dos guerreiros por vinte e uma gerações.


Um homem com um machado. Lembra-nos uma versão bastante rústica do ser humano, com seu espírito caçador e inserido na vida selvagem.


#7 Rama

[iii] Quando os três mundos estavam a ser atormentados por Ravana de dez cabeças, encarnaste em Rama para o destruir. Aprendeste a arte de lançar flechas e foste para a floresta em exílio por catorze anos. Durante esse tempo Ravana raptou a tua esposa, Sita. Demoraste algum tempo, mas depois cruzaste o oceano, construindo uma ponte com a ajuda dos macacos guerreiros, e mataste o senhor de [Sri] Lanka, Ravana, com toda a sua família.


O Rei Rama representa uma evolução do avatar humano. É agora um homem que porta arco e flecha, como um arqueiro, que tem um espírito guerreiro, mas é mais sensível.


#8 Krishna

[iii] Depois apareceste como Balarama. Diminuiste as dores da terra ao aniquilares muitos demónios. Ao mesmo tempo, todos os semideuses e devotos veneraram os teus pés de lótus.


Krishna é o mais delicado entre os avatares anteriores. É sensível, tem feições afeminadas e tem a música (a flauta) como instrumento. Seria, portanto, mais uma evolução do ser humano: do rude ao sensível e educado.










#9 Buddha

[iii] Na devida altura apareceste como Buda e mostraste ódio pelos princípios prescritos pelo criador. Instruiste os teus seguidores a abandonarem o seu apego a este mundo de ilusão, fazendo-os renunciar a todos os desejos de gratificação dos sentidos. Apesar de teres rejeitado os Vedas, nunca rejeitaste a ética do mundo.


O nono avatar e último que chegou à Terra. É um guerreiro hindu. Segundo algumas linhas filosóficas do hinduísmo, esse avatar daria origem ao budismo.


#10 Kalki

[iii] Aparecerás como Kalki para eliminar a dinastia de Kali [i.e. a deusa da destruição] ao destruir os budistas, ateístas, e outros que tais, assim protegendo o verdadeiro caminho da religião.


Kalki é considerado o décimo avatar, ainda aguardado na Terra. Sua forma é um homem sobre um cavalo, trazendo a representação de um homem que controla seu ego e seus cinco sentidos. Kalki é um ser que domina suas emoções e seus impulsos, assim como sentimentos de raiva, ódio e inveja.




A história que acompanha cada um destes avatares será o tema dos próximos artigos, começando pelo aparecimento do primeiro avatar, Matsya, aquando do grande dilúvio, no Satya Yuga.



 

[i] As grandes religiões do mundo, o Hinduísmo, de Louis Renou, editorial verbo 1980

[ii] Os cinco são: 1. degeneração do tempo: a existência de disputa [guerra]; 2. degeneração da duração da vida: atualmente a vida útil está se tornando mais curta; 3. degeneração da percepção correta: a dificuldade de transformar a visão errônea [pervertida]; 4. degeneração da aflição: uma forte concepção de um eu ou entidade intrínseca permanente [egocentrismo]; e 5. degeneração dos seres: dificuldade de subjugar a mente e as faculdades sensoriais [dos quais dependem as aflições mentais].

[iii] O Vishnu Purana é um dos dezoito Mahapuranas, um género de textos antigos e medievais do hinduísmo. É um importante texto Pancharatra no corpus da literatura vaishnavista.


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