Do conhecimento à sabedoria
O quarto dos cinco koshas é Vijnanamaya Kosha – o invólucro da sabedoria. Vijnanamaya abrange a discriminação, a intuição e o intelecto. Pode ser pensada como a mente testemunha, ou aquele aspecto da nossa consciência que não está enredado no que estamos a fazer ou a pensar, embora perfeitamente consciente do que estamos a fazer e a pensar. Vijnanamaya kosha é consciência, simplesmente.
Manomaya estabelece as bases para alcançar o Vijnanamaya. Devemos primeiro navegar pelos mares das nossas mentes turbulentas e ocupadas antes de sermos capazes de superar as ondas de pensamentos que nos afastam do nosso centro. Desta forma, desenvolvemos uma mente firme e somos capazes de nos ver à distância, por assim dizer. Vijnanamaya permite-nos dar um passo atrás na nossa situação actual e vê-la de uma melhor perspetiva. É daí que vem o insight.
A mente (manas) é superior ao corpo e o intelecto (buddhi) é superior à mente. O texto sagrado, Bhagavad Gita, diz isto de forma simples e completa:
Entre a mente (Manas) e o Ser (Atman) encontra-se o Buddhi, o intelecto, que tem dois aspectos:
Buddhi ligada a Manas - é a mente inteligente e pensante.
Buddhi ligada a Atman - é tão subtil que é praticamente indistinguível do espírito. É perfeitamente consciente, mas não é a consciência em si. Não pensa, mas percebe e sabe.
O nível de sabedoria iluminada do ser humano é Buddhi ou intelecto refinado. A sua sabedoria é intuitiva, mas é capaz de a transmitir em termos intelectuais. As energias que o compõem são tão subtis, tão rarefeitas, que são quase indistinguíveis do espírito. Chitta é a energia subtil que é a substância da mente e, no entanto, é a própria consciência. Mas quando unimos a energia de Manas com Buddhi, o resultado é o autoconhecimento.
Aqui, no plano físico da existência, Buddhi – sendo tão universal, puro, espiritual, subjectivo e quase totalmente indiferenciado e incondicionado – é totalmente inconsciente e inactivo, até que, eventualmente, se torna consciente pela sua união com as faculdades superiores de Manas.
“Buddhi per se, estando tão próximo do Absoluto, é apenas consciência latente e não faz nada por si só, mas é o veículo espiritual de Atman , indissociável da Alma Universal manifestada.” - Helena Blavatsky, A Doutrina Secreta (Vol. 2, pág. 231-275)
Buddhi é o elo de ligação entre Atman e Manas. Por outras palavras, é o elo de ligação entre o Eu e o Ego.
A mente sensorial inferior (Manas) não pode perceber o Ser, mas a mente superior (Buddhi), pode. Isto porque o Buddhi, nos seus níveis mais elevados, se funde com o Ser, pois toda a extensão da existência relativa é realmente uma expansão de Brahman e, portanto, essencialmente da consciência/espírito.
Se o nosso julgamento se basear nas nossas percepções e experiências físicas, desviar-se-á e revelar-se-á errado. Mas se for processado no intelecto, em Buddhi, então resultarão em sabedoria e resposta (acção) correcta.
Buddhi não deve ser fundido em Manas, mas Manas deve ser elevado e fundido com Buddhi, com o princípio da inteligência espiritual dentro de cada um de nós. Esta é a verdadeira “elevação da humanidade”, um esforço intensamente pessoal em que cada um se deve empenhar, se a humanidade quiser ter um futuro melhor. Não deve ser encontrado externamente, mas sim internamente.
A mente deve ser “polida” continuamente para se manter brilhante e imaculada. O caminho principal é através da meditação, mas também devemos usar a nossa inteligência e expandir continuamente as nossas faculdades intelectuais e intuitivas. Devemos garantir que as nossas mentes não acumulam uma camada de pó e sujidade que irá entorpecer e amortecer a mente. É um processo constante manter as nossas mentes em condições favoráveis ao crescimento espiritual e à realização final.
Como o yoga pode nos conduzir a Buddhi, a inteligência suprema
A verdadeira definição de Yoga – que significa literalmente “União” em sânscrito – é “a ‘união’ de Manas – onde reside a nossa consciência individual e a ideia de "Eu sou eu" – com Buddhi. Quando esta união é completamente efectuada, o yogui atinge o Nirvana ou torna-se um Mukta - livre os véus de Maya (ilusão), na qual estamos todos, mais ou menos, ligados. A inteligência, a consciência e a intuição, as três faculdades de Buddhi que tendem para a consciência superior, são ingredientes essenciais para alcançarmos a libertação. Aqueles que estabelecem Buddhi, o intelecto, como o mestre de Manas, a mente sensorial, são bem sucedidos no Yoga.
O prazer e a dor têm origem na mente e dominam-nos! Mas quando o yogui, através da prática, aprende a centrar a sua experiência em Buddhi, então dor e prazer tornam-se objectivos e deixam de o dominar ou inquietar.
Tal como o Manomaya, o Vijnanamaya pode ser obtido com a prática regular de yoga asana, pranayama e meditação. Quando se atinge o ponto na prática de yoga em que nos distraímos muito menos por pensamentos ou ocorrências aleatórias e estamos muito menos presos na antecipação da próxima postura, descobrimos que somos capaz de sentir muito mais a postura e de estarmos muito mais presentes com a respiração. Sabemos o que está a acontecer no corpo e na mente à medida que executamos a postura, percebendo as nuances. Esta consciência é alcançada quando o vijnanamaya kosha é desenvolvido adequadamente. À medida que a prática de yoga se aprofunda, podemos observar as mudanças subtis que ocorrem e reparar em aspectos da consciência que exemplificam o desenvolvimento deste kosha. Inevitavelmente, deparamo-nos com os padrões de condicionamento limitadores da nossa personalidade. Descobrimos a consciência, no sentido literal, de tirar o que estava a encobrir a consciência e, nessa dimensão, desenvolvemos qualidades de disciplina (tapas), discernimento (viveka) e desapego (vairagya).
Assim que formos capazes de nos envolver totalmente no Vijnanamaya kosha, experimentaremos uma paz mais profunda nas nossas vidas, que vem através da libertação de pensamentos, acções e palavras que não nos servem. Apesar de não ser possível mantermos esta consciência 24 horas por dia, 7 dias por semana, dado o ritmo e a intensidade das nossas vidas diárias, esta consciência vem em ondas, aumentando gradualmente ao longo do tempo, até que seja muito menos provável que nos deixemos envolver nos dramas diários que a mente nos conta.
Durante o asana seja a testemunha de si mesmo e evite quaisquer julgamentos. Enquanto executa as posturas, questione-se: "Quais são meus padrões de pensamento e as minhas crenças? O que me leva a precisar deles? Consigo perceber a minha consciência intuitiva, ou ainda a cubro com julgamentos?"
Uma prática de Kriya Yoga para desenvolver a consciência de Buddhi
No corpo subtil, os olhos são as janelas da nossa alma e, no corpo físico, são os mais complexos de todos os órgãos dos sentidos. Quase metade do cérebro é dedicado à visão, evidência da ligação entre focar o olhar e aquietar a mente.
Na tradição do Kriya Yoga, o yoga preliminar que prepara o corpo/mente para estados mais elevados de consciência através de práticas de limpeza e purificação dos corpos físico, energético e mental, é utilizada uma técnica que, não só ajuda na concentração da mente, pela fixação do olhar num determinado ponto, como ajuda a serenar a mente racional ao mesmo tempo que limpa e purifica os sistema ocular, permitindo uma visão mais clara e objectiva.
O Trataka é uma técnica de meditação que utiliza o sentido da visão para acalmar a mente. Embora possa praticar o Trataka olhando para um ponto na parede, a ponta do nariz ou uma estrela no céu, isto é tradicionalmente – e mais eficaz – conseguido olhando para a chama de uma vela.
Trataka significa “olhar” em sânscrito e embora a prática possa parecer passiva, é alquímica, aumentando a capacidade de dissolver distrações e cultivar a clareza ao longo do tempo. O Hatha Yoga Pradipika define o ritual como “olhar atentamente com um olhar inabalável para um pequeno ponto até que as lágrimas sejam derramadas”.
Trataka está alinhado com a definição de concentração oferecida nos Yoga Sutras de Patanjali, que dizem que para alcançar a paz interior devemos primeiro dominar a meditação, que pode ser aprendida concentrando-nos num único objecto com atenção ininterrupta. Infelizmente, olhar para os ecrãs não conta. Na verdade, pode ter o efeito oposto, uma vez que a nossa crescente dependência da tecnologia está directamente correlacionada com o aumento dos níveis de stress e a diminuição da capacidade de atenção. Trataka contraria isso, trabalhando para diminuir a ansiedade e melhorar a memória e a concentração. E, como qualquer nova técnica, torna-se mais fácil com o tempo.
Para conhecer mais detalhes sobre esta prática, consulte o artigo do blog PuroPrana:
Como praticar Trataka?
Acenda uma vela e coloque-a sobre uma pequena mesa de forma a que a chama fique exactamente à altura dos olhos quando estiver sentado. Apare o pavio e proteja a chama das correntes de ar para que se mantenha estável. Sente-se confortavelmente com a cabeça e a coluna erectas.
Ajuste a posição de modo a que a vela fique a um braço de distância do corpo. Feche os olhos e relaxe todo o corpo, principalmente os olhos. Esteja atento à estabilidade do corpo durante alguns minutos. Mantenha o corpo absolutamente imóvel durante toda a prática. Abra os olhos e olhe fixamente para a chama. Tente não piscar ou mexer os olhos de forma alguma. Não force, pois isso causará tensão e os olhos piscarão. A consciência deve estar tão completamente centrada na chama que a consciência corporal se perca. Se a mente começar a divagar, traga-a suavemente de volta à prática. Passados um ou dois minutos, quando os olhos ficarem cansados ou começarem a lacrimejar, feche-os suavemente.
Observe a imagem residual da chama no espaço diante dos olhos fechados. Se a imagem se mover para cima ou para baixo, ou de um lado para o outro, observe-a e tente estabilizá-la. Quando a imagem da chama começar a desaparecer, tente trazê-la de volta. Quando a imagem já não puder ser retida, abra suavemente os olhos e volte a olhar para a chama. Repita o procedimento para a contemplação externa. Feche os olhos mais uma vez e observe a imagem interior. Continue desta forma 3 ou 4 vezes. Após completar a ronda final, pratique a técnica de palming 2 ou 3 vezes, antes de abrir os olhos. Isto completa a prática.
Hora da prática: Trataka pode ser realizada a qualquer hora, mas a melhor hora é ao amanhecer ou ao anoitecer, quando o estômago está vazio.
Contra-indicações
As pessoas que sofrem de glaucoma ou epilépcia não devem praticar trataka. Evite praticar trataka ao sol, pois as delicadas membranas dos olhos podem ser danificadas.
Benefícios
Esta prática torna os olhos claros e brilhantes. Equilibra o sistema nervoso, aliviando a tensão nervosa. Melhora a memória e ajuda a desenvolver uma boa concentração e uma forte força de vontade. Activa o ajna chakra e é uma excelente preparação para a meditação.
Namaste!
MJ
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