Varāha Avatar, que significa “javali” em sânscrito, é o terceiro avatar que Vishnu adoptou no Satya Yuga, para proteger a terra [Prithvi], tendo assumido a forma extraordinária de um javali gigante – gigante o suficiente para erguer e carregar a terra (personificada como a deusa Bhudevi) do oceano cósmico com as suas presas, depois deste ter sido roubada e escondida pelo demónio Hiranyaksha.
A origem de Varāha é encontrada nos Vedas, as mais antigas escrituras hindus, nos quais é originalmente descrito como uma forma de Prajapati (equiparado a Brahma), tendo evoluído para o avatar de Vishnu nas escrituras hindus posteriores, em especial no Varāha Upanishad, composto em sânscrito entre os séculos XIII e XVI D.C. Este texto está listado como um dos 32 Upanishads de Krishna Yajurveda e classificado como um dos 20 Upanishads de Yoga. É, como Upanishad, uma parte do corpus da literatura vedanta que apresenta os conceitos filosóficos do hinduísmo.
O texto revela a discussão entre Vishnu, em forma de Varāha Avatar, e o sábio Ribhu sobre Tattvas - a natureza e o relacionamento entre a alma individual (Self, Atman) e a Realidade Suprema (Brahman), os sete estágios de aprendizagem, as características de Jivanmukti (sentido interior de liberdade enquanto vivo) e os quatro tipos de Jivanmuktas (pessoas libertadas). O último capítulo do texto é dedicado ao Yoga, seus objectivos e métodos.
O Varāha Upanishad enfatiza que a libertação da tristeza e do medo requer que o ser humano conheça a natureza não dualista da existência, a unidade entre o Ser, Brahman e Vishnu, e reconhece o papel do Yoga na autolibertação, enumerando os dez Yamas (virtudes) como essenciais para a libertação da alma, mencionados pela primeira vez nos Yoga Sutras de Patanjali. O texto descreve o Jivanmukta como aquele cujo estado interior, entre outras coisas, não é afectado pela felicidade nem pelo sofrimento infligido a ele, que não foge com medo do mundo, nem o mundo foge dele com medo, e cujo sentido de calma e contentamento interior está livre de raiva, medo e alegria.
A lenda de Varāha
O avatar Varāha começa com os guardiões de Vaikunta, o reino celeste do deus Vishnu, Jaya e Vijaya. Era responsabilidade de ambos garantir e permitir que todas as pessoas que tivessem queixas vissem Vishnu. No entanto, eles sabiam que o tempo do deus que eles tanto amavam, honravam e protegiam, era precioso e não podia ser desperdiçado.
Um dia, os quatro filhos do deus Brahma vieram ao encontro de Vishnu, mas como este se encontrava a descansar naquele momento, os dois guardas impediram-nos de entra. Os filhos de Brahma ficaram muito zangados e amaldiçoaram Jaya e Vijaya a nascerem como humanos na terra. Os guardas imploraram, mas os filho do deus Brahma não quiseram ouvir.
Vishnu, que entretanto acordou com o barulho, chegou ao local e pediu desculpa pelos seus guardas, dizendo que eles estavam apenas a cumprir o seu dever, mas a maldição já não podia ser retirada, a menos que os dois, em formas humanas, encontrassem a sua própria morte, que não chegaria por intervenção de nenhum deus, humano, demónio, animal ou besta, não chegaria de noite, nem de dia, nem dentro nem fora, pois assim tinha sido a benção de Brahma pela devoção deJaya e Vijaya. Os guardas não tiveram escolha a não ser concordar com isso. E assim, ambos nasceram como irmãos chamados Hiranyakashyap e Hiranyaksha, os dois demónios protagonistas da terceira e quarta encarnações de Vishnu.
Hiranyaksha começou a torturar as pessoas na terra ao ter certeza de sua imortalidade. Seus poderes cresciam a cada dia. Ele era tão gigante que a mãe terra tremia quando ele andava e o céu rachava quando ele gritava.
Ele começou a assediar os deuses e invadiu o palácio de Indra, o Deus do Sol, o rei dos deuses. Temendo por suas vidas, estes abrigaram-se nas cavernas das cordilheiras da terra. Para assediar os deuses, Hiranyaksha agarrou a terra e submergiu-a em paatal lok [1]. A Mãe Terra afundou no fundo do oceano.
Nessa época, Manu e sua esposa Shatarupa governavam a terra e, temendo pelo seu destino, dirigiram-se a Brahma: “Pai, diga-nos como podemos servi-lo e garantir a nossa felicidade neste mundo e no próximo. Onde Shatarupa e eu devemos viver enquanto a Mãe Terra está submersa no oceano?”
Brahma ficou preocupado e pensou que a mãe terra deveria ser resgatada. Ele disse: “Hiranyaksha não será destruído por mim. Vamos pedir ajuda a Vishnu!”
Enquanto Brahma meditava para Vishnu, um minúsculo Javali caiu das suas narinas. Querendo saber o que era aquela criatura, ela cresceu e cresceu até ficar do tamanho de uma grande montanha e disse: "Vou entrar no oceano para resgatar a Mãe Terra." Ele tinha assumido a forma de um javali para matar Hiranyaksha, porque ao receber a benção de Brahma, entre todos os animais, Hiranyaksha esqueceu de mencionar o javali como um animal.
Emitindo um rugido terrível, Varaha deu um poderoso salto no ar, rasgou as nuvens com seus cascos e mergulhou no leito do oceano em busca da Mãe Terra. Ele alcançou a outra extremidade do oceano e descobriu em suas profundezas Bhoomidevi (Mãe Terra).
Varaha, que tinha acabado de cravar a suas presas no leito do oceano e erguido a Mãe Terra, começou a subir em direcção à superfície. Hiranyaksha correu em sua direção com uma clava na mão, desafiou Vishnu na forma de um Javali para lutar com ele, mas este ignorou todos os seus avisos e continuou a subir à superfície. Ao ver isso, Hiranyaksha deu início à perseguição, mas o javali nem olhou para trás, e escapou para colocar a mãe terra num um lugar seguro.
Varaha avatar trouxe a terra à superfície do oceano, colocou-a suavemente no seu eixo e abençoou-a. Só depois, se voltou para enfrentar Hiranyaksha. Eles lutaram por muito tempo com as suas clavas.
Durante a terrível batalha, Brahma alertou Vishnu que só teria uma hora antes do pôr do sol para destruir o demónio antes que escurecesse, para que ele não tivesse oportunidade de recorrer à sua magia negra.
Então, Varaha atingiu Hiranyaksha com toda a força e atirou-o ao ar. Ele caiu de cabeça e morreu no local. Manu recuperou sua terra e os deuses recuperaram o céu.
Mais uma vez, a terra foi salva do perigo por Vishnu, desta feita na forma de javali.
[1] Paatal Lok refere-se aos reinos subterrâneos do universo, que estão localizados sob a terra e muitas vezes é traduzido como submundo. É uma terra de encantamento e ilusões repleto de riquezas, paisagens e pessoas bonitas.
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