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Sthira Sukham, o conforto e a estabilidade no yoga e na vida

Atualizado: 7 de fev.



No Yoga Sutra II.46, “sthira sukham asanam” é traduzido como “a postura deve ser firme, estável e confortável”. Este conceito basilar da filosofia prática de Patanjali, ensina como o yogui deve progredir na sua prática. E não, não é a executar posturas quase acrobáticas que se identifica um praticante de nível avançado! Independentemente da dificuldade da postura, é a atitude do praticante que determina o sucesso da sua execução.


Tal como na vida, não é a gravidade ou dificuldade da situação que nos fará evoluir enquanto seres sencientes, mas sim a nossa atitude perante os acontecimentos vividos e a forma como nos conduzimos durante a experiência.


A palavra “sthira” traduz-se como constante, estável ou imóvel. Sthira também pode significar ser firme, compacto, forte, estático, resoluto e alerta. A estabilidade é alcançada através de alinhamento e força adequados. Uma postura estável requer um núcleo forte e foco no enraizamento. Uma postura instável reduz o foco mental e faz com que a mente divague.


A palavra “sukham” ou “sukha” significa lugar confortável, tranquilo ou bom. Sukha também pode significar suave, aberto, alegre, encantador, calmo, fácil, agradável ou virtuoso. O conforto é alcançado concentrando-se na respiração e no relaxamento. A facilidade é sentida quando se consegue respirar lenta e profundamente, sem forçar. Se se sentir a respiração presa ou se respirar superficialmente durante o asana, isso afetará a capacidade de alcançar Sukham. Uma postura desconfortável cria distração, o que impede de alcançar um estado de calma e paz.


A palavra “asanam” ou “asana” traduz-se em “postura” ou “assento”, referindo-se, sobretudo, à posição sentada para a prática de meditação. A maioria das interpretações modernas concorda que este sutra pode ser aplicável a todos os diferentes tipos de posturas de yoga. Eu acrescento que esta palavra pode ser uma metáfora para a forma como interpretamos todos os eventos e experiências vividas, dentro e fora do tapete!



É claro que o desafio e a autossuperação fazem parte da prática de yoga e ajudam o praticante a evoluir, aumentando a duração ou complexidade da postura, ou seja, deve haver um esforço para executar a postura, especialmente se for desafiante para o praticante, mas com o princípio da estabilidade e conforto em mente, pois nunca se deve ficar sem fôlego, com dores, ou prejudicar a si próprio.


Podemos experimentar sthira e sukha em vários níveis – físico, mental, emocional, energético e espiritual. Por exemplo, se praticarmos uma postura desafiadora e estivermos com dificuldades, podemos observar quais os músculos que estão tensos, podendo libertar essa tensão e relaxar, de modo que a resistência emocional ou o stress mental, que nos impede de estar totalmente presente no momento, possa ser igualmente libertado.


Ao nível físico, o equilíbrio entre sthira e sukha manifesta-se como uma sensação de estabilidade, facilidade, conforto e poder nas posturas de yoga. Os músculos estão uniformemente envolvidos e activados para manter a forma do asana com firmeza, ao mesmo tempo que conseguimos manter a leveza e a tranquilidade na execução da postura, ou seja, estamos livres de tensão e esforço. O corpo pode mover-se com facilidade e fluidez, ao mesmo tempo que se sente ancorado, relaxado e forte. O alinhamento é necessário, mas não deve ser rígido, permitindo que o corpo se sinta vivo e expressivo dentro do espaço criado pela postura.


Ao nível mental, um equilíbrio entre sthira e sukha pode ser experimentado por uma sensação de paz e tranquilidade, enquanto a mente permanece focada e clara. Sentimo-nos centrados, mesmo sob a pressão de realizar asanas desafiadores e intensos. O nosso foco (drishti) é estável e forte e não somos distraídos por estímulos externos. A mente torna-se paciente e vigilante, observando tudo o que surge em cada momento.


Ao nível emocional, um equilíbrio entre sthira e sukha permite-nos libertar quaisquer emoções ou sentimentos negativos que possam surgir durante a prática. Podemo-nos sentir conectados a nós mesmos, aos outros e à natureza, mas, ao mesmo tempo, sentimo-nos desapegados e livres. O objectivo é desenvolver uma sensação relaxante de calma, contentamento, alegria, felicidade e gratidão em cada asana.


Ao nível energético, experimentamos sthira e sukha como um fluxo fácil de respiração e um fluxo equilibrado de prana (energia da força vital) por todo o corpo. Este flui livremente através dos chakras, ou centros de energia, ao longo da coluna, mas permanece contido no corpo. A respiração move-se suavemente e sem esforço, fluindo com plenitude, sem prender ou forçar, mesmo durante as posturas mais intensas.


Ao nível espiritual, experimentamos um equilíbrio entre sthira e sukha como uma conexão com o divino, permanecendo presentes no corpo e na matéria. Trazemos para cada asana as qualidades espirituais de fé, amor, devoção, paz, sabedoria, compaixão, humildade, pureza, paciência e equanimidade.



Benefícios no cultivo da estabilidade e conforto no yoga e na vida:

  • Promove segurança e reduz o risco de lesões.

  • Cria uma sensação de calma e relaxamento.

  • Desenvolve concentração e foco.

  • Cultiva paciência e perseverança.

  • Melhora a autoconsciência.

  • Promove a atenção plena.

  • Aumenta a autoconfiança, a coragem e a força interior.

  • Incentiva a tolerância e a compaixão pelos outros.

  • Desenvolve a coragem para enfrentar os desafios da vida com clareza, equanimidade e racionalidade.

  • Cria uma base sólida para práticas mais profundas de yoga e meditação.



O conceito sthira e sukha está em perfeita sintonia com uma lei da natureza, conhecida como o Princípio da Acção Mínima. Esta lei diz que a natureza seguirá sempre o caminho que requer a menor quantidade de energia e tempo, pois o propósito é o de conservação da energia. Transportando este princípio para a natureza humana, refere-se ao cultivo de um estado de ser em que as nossas acções se alinham sem esforço com o refluxo e fluxo dos ciclos elementares do mundo natural.


É este princípio que está na base dos asanas do yoga. Pratica-se cada ásana de forma mais natural, quando se facilita o seu desenvolvimento com o menor esforço físico e mental. Desta forma, permanece em sintonia com a sua própria natureza e com o grande fluxo da natureza à sua volta. Quando pratica Hatha Yoga e o seu corpo está num modo de repouso e regeneração, está a agir de acordo com o princípio mais básico e natural do universo. Actua assim em harmonia com a totalidade da lei natural.



É importante lembrar que existe uma dinâmica constante entre sthira e sukha, quer seja no tapete de yoga ou na vida diária, e que para manter o equilíbrio entre estes dois estados precisamos estar atentos para perceber quando estamos a utilizar mais um em detrimento do outro.


Se estivermos demasiado envolvidos no mundo que nos rodeia, demasiado fora de nós, pouco conscientes dos processos internos, perdemos a oportunidade de reconhecer quando estamos a sentir falta de sthira e/ou sukha. Isso pode ser devido a uma agenda lotada, a demasiados pensamentos sobre o passado ou o futuro, devido à ingestão de alimentos não saudáveis ou pela participação em actividades que aumentam os níveis de stress.


Ao percebermos que perdemos o contacto com nosso eu interior, voltamos a esse equilíbrio e podemos preencher este bom espaço com facilidade, alegria, deleite, admiração e calma.


Quando somos capazes de alcançar um equilíbrio entre sthira e sukha, não apenas avançamos em direcção à evolução pessoal, mas também cultivamos um estado de espírito que nos permite caminhar pela estrada da vida com leveza, graciosidade e tranquilidade.



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