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Foto do escritorYoga PuroPrana

Parashuramāvatāra, a sexta encarnação de Vishnu


Parashurama, o guerreiro bramane, nascido no seio de uma família de classe sacerdotal, é a sexta encarnação do Deus Vishnu. Ele é um dos oito imortais da mitologia hindu, considerado um dos maiores guerreiros, bem como um grande sábio. Seu nome verdadeiro é Bhargav Rama, filho de um dos sete grandes sábios da tradição védica, ou Saptarshis [1], de seu nome Jamadagni e de Renuka, sua mãe, que é adorada como uma das deusas hindus.


Parashurama nasceu em Treta Yuga e o seu aniversário de nascimento é comemorado na Índia como Parashurama Jayanti em Vaishakh Shukla Tritiya todos os anos. O mesmo dia também é comemorado como Akshay Tritiya [2].


Este grande guerreiro é representado com um machado de guerra (Parashu), a sua super-arma oferecida pelo Deus Shiva como reconhecimento da sua devoçãoe entrega, pelo que também é conhecido como o “Rama que empunha o machado”. Embora nascido de uma família bramane ou classe sacerdotal, Parashurama tinha o imenso poder físico e instinto assassino, tal como um Kshatriya [3] ou a classe guerreira.


O objetivo do avatar Parashurama era libertar o mundo da opressão dos governantes Kshatriya, que se desviaram do caminho do dharma. Indignado com o rei Kartavirya Arjuna e seus filhos, que tinham morto o seu santo pai, Parashurama jurou aniquilar toda a raça Kshatriya, tendo travado 21 guerras para destruir as várias gerações dos ímpios Kshatriyas, cumprindo assim a tarefa do avatar de Vishnu.



A lenda de Parashurama

Bhargav Rama, mais tarde conhecido como Parashurama, tinha quatro irmãos cujos nomes eram Soma, Rutu, Turvasu e Megha. Sua mãe, Renuka, era uma princesa guerreira. Seu pai era um bramane, mas também um grande guerreiro.


Parashurama foi discípulo do sábio Vishwamitra, que havia sido um guerreiro antes de se tornar um sábio. Vishwamitra deu o treino militar a Parashurama e, dada a sua mestria nas artes da guerra e, ao mesmo tempo, a sua atitude devocional, Shiva entregou-lhe muitas armas divinas, uma delas era o grande machado (Parashu).


Durante este tempo, o clã dos guerreiros (Kshatriyas) tinham-se tornado despóticos e consideravam-se superiores a todos os quatro Varnas (classes sociais). Sahastrarjuna, também conhecido como Kartavirya Arjuna, era o rei do reino de Haihayas. Ele era um dos maiores guerreiros da época, tendo, inclusivamente, derrotado o rei dos demónios, Ravana, facilmente.


O rei Kartavirya Arjuna, dividiu seu reino em 1.000 regiões e nomeou 1.000 oficiais como seus representantes para recolher os impostos e cuidar dos assuntos administrativos. Esses 1.000 oficiais eram cruéis e despóticos. Mesmo depois de tomar conhecimento da crueldade de seus oficiais, Kartavirya Arjuna ignorou os acontecimentos. Ele tinha centenas de esposas e costumava viver uma vida muito luxuosa, ignorando o sofrimento dos cidadãos.


Um dia, o rei Arjuna visitou o ashram [4] de Jamadagni junto com milhares de soldados sem aviso prévio. Independentemente disso, Jamadagni conseguiu dar comida e abrigo a todos os soldados, excedendo as expectativas do rei, que lhe perguntou o segredo por trás disso. Jamadagni contou-lhe sobre a vaca divina, Kamadhenu, do seu ashram, e que, por causa dela, não havia escassez de comida.

O rei pediu a Jamadagni que lhe desse Kamadhenu, ao que o sábio recusou. Na sequência desta recusa, o rei Arjuna, enraivecido, decapitou-o e levou a vaca à força consigo. Depois de saber desta injustiça, Parashurama fez o juramento de livrar a terra dos Kshatriyas 21 vezes (acredita-se que os soldados de Kartavira Arjuna cortaram o corpo de Jamadagni em 21 pedaços; portanto, ele fez o juramento de erradicar os Kshatriyas 21 vezes).


O primeiro a ser alvo da ira do guerreiro divino foi o rei Arjuna e todos os seus súbditos. Depois disso, ele lutou 20 guerras (num total de 21) e derrotou e matou todos os Kshatriyas, esmagando-lhes o ego e restaurando o Dharma durante esse tempo.


Dado a sua enorme força, coragem e determinação enquanto guerreiro, bem como pelo facto de ser imortal, Parashurama protagoniza uma série de acontecimentos relatados em diversos textos clássicos, tais como o grande épico Mahabharata ou Ramayana, nos quais aparece como guru e mestre de armas de reis, guerreiros e outros avatares.


Uma das histórias relata o encontro de Parashurama com o deus Ganesha. Um dia, Parashurama quis encontrar-se com o seu mestre espiritual, o deus Shiva, e dirigiu-se para a sua residência, o Monte Kailash. Mas, quando lá chegou, não teve permissão para ver Shiva, pois ele e a sua esposa, Parvati, estavam a descansar, tendo ordenado a Ganesha que não permitisse que ninguém os incomodasse. Desconhecendo que Ganesha era filho de Shiva e Parvati, Parashurama, com o seu temperamento impulsivo e tempestuoso, ficou cheio de raiva por ser impedido de ver Shiva e lutou com Ganesha, mas este era um grande guerreiro e deu uma boa luta. Então, como último recurso, Parashurama lançou o seu machado em direcção a Ganesha que, percebendo que o machado tinha sido oferecido por seu pai ao feroz guerreiro, para reverenciá-lo, permitiu-se levar o golpe num dos seus dentes. Daí que o deus Ganesha passou a ser conhecido também como Ekadanta (com um dente). Logo depois, Shiva interveio e pacificou a situação.


Uma outra lenda associada a Parashurama conta que, por ordem de seu pai, este guerreiro decepou a cabeça da sua mãe, uma tarefa hedionda que seus irmãos recusaram. Satisfeito com a sua obediência, quando o pai lhe pediu para escolher uma benção como recompensa do seu feito, Parashurama desejou que a sua mãe voltasse à vida, desejo que lhe foi concedido.


Esta lenda demostra-nos que a fé pura de Parashurama em seu pai resultou na devida obediência e completa subserviência à vontade superior. No caminho espiritual, o pai é considerado o Guru e Deus, a quem devemos aprender a entregar a nossa vontade. Parashurama tinha aquela obediência implícita e fé perfeita na divindade de seu pai, provando ser uma antítese das qualidades ‘sáttvicas’ (equlibradas) ou piedosas da classe bramane. Ele matou muitos grandes reis, que eram injustos, orgulhosos, tirânicos com seus súditos e inimigos dos bramanes. Reis justos são tão essenciais para o mundo quanto bramanes piedosos.


Este avatar, de um modo geral, demonstra-nos que a destruição é uma necessidade! A menos que destruamos as ervas daninhas, belas colheitas não podem crescer. A menos que aniquilemos a besta em nós, não podemos crescer em nossa natureza humana sublime, que é próxima à divina.


Devemos primeiro aniquilar completamente a nossa natureza bestial e então, quando nos tornarmos verdadeiros seres humanos, devemos aprender a submeter-nos ao nosso Guru. Só então devemos destruir todas as más propensões em nós que se interpõem no caminho até ao divino.



Guerreiros do Hatha Yoga

Uma das características mais marcantes da prática de yoga é a sua natureza psicofísica. Os efeitos das posturas vão além do estímulo físico e fisiológico, actuando também sobre os estados mental e emocional. Realizar Virabhadrasana, a postura do guerreiro, desenvolve atributos correspondentes que remetem à ideia de poder como força, determinação, coragem e iniciativa.


Da mesma forma que a nossa condição psicológica se manifesta na nossa linguagem corporal, podemos actuar na psique alterando a estrutura física que traduz esses estados. A cada prática aprendemos a importância de sair da nossa zona de conforto e a entender melhor como a nossa mente responde nas situações desconfortáveis da vida.


Vamos reconhecendo as nossas respostas intuitivas no tapete durante a prática, que são idênticas às respostas dadas na vida quando somos confrontados com situações que exigem a nossa persistência, resistência e resiliência, e vamos cultivando uma mente mais calma, forte, flexível e equilibrada quando a vida nos coloca em posições desconfortáveis, onde se torna necessário (re)lembramos dos super-poderes do nosso guerreiro interior.


Em frente, guerreiros da vida!


 

[1] - Os Saptarishi (sete sábios) são conhecidos como os sete rishis na Índia antiga, vividamente mencionados nos Vedas e em outras literaturas hindus como Brahmanas e Upanishads. Diz-se que Adiyogi (Lord Shiva) ensinou yoga aos saptarishis para que pudessem transmitir o conhecimento e a tradição à humanidade.


[2] - Akshaya Tritiya, também conhecido como Akti ou Akha Teej, é um festival anual jainista e hindu que se realiza durante a primavera, no terceiro tithi (dia lunar) da metade brilhante (Shukla Paksha) do mês de Vaisakha (mês do calendário hindu que corresponde a abril/maio no calendário gregoriano). É considerado um dia auspicioso pelos hindus e jainistas na Índia, e significa o "terceiro dia de prosperidade sem fim".


[3] - Kshatriya é uma das quatro varna (ordens sociais) da sociedade hindu, associada à aristocracia guerreira.


[4] - Ashram é um eremitério espiritual ou mosteiro nas religiões indianas.

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