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Os pulmões e as emoções



Não só o coração guarda emoções, os pulmões também. Aliás, a relação entre os dois órgãos é íntima, quer em termos fisiológicos, quer em termos emocionais.


A saúde pulmonar depende da predisposição à vida, do firme propósito de existir, da vontade de interagir com o ambiente e da habilidade em manter as relações interpessoais. A negação da vida dificulta o processo de absorção do oxigénio e os bloqueios na expressão dos conteúdos internos podem provocar alterações no mecanismo natural da respiração: o medo do desconhecido, de receber um não, a dificuldade de se expor e a recusa em absorver plenamente a vida, são factores emocionais potenciadores de complicações pulmonares.


As doenças que afectam os pulmões, como a asma, bronquite ou pneumonia, para além de um agente infeccioso, podem ser causadas a partir de uma emoção, trauma, mágoa, ressentimento, entre outros, que não consegue ser expressa conscientemente pelo indivíduo, então o corpo encontra outras formas de fazê-lo olhar para o seu interior. Aqueles que sofrem com problemas pulmonares demonstram bloqueios emocionais e desânimo com a vida, por isso, têm dificuldade em respirar.


Na concepção da Medicina Tradicional Chinesa, os pulmões estão associados à tristeza. Por isso, quando esta emoção ocorre de forma intensa e prolongada, ela pode comprometer a função pulmonar. Saiba um pouco mais sobre o PULMÃO: Emoções e Sentimentos na Visão da Medicina Tradicional Chinesa:




Na perspectiva psicossomática, as doenças que efectam os pulmões podem surgir na sequência de uma mágoa muito profunda ou porque a pessoa em questão está em constante conflito com suas emoções, sentindo-se, geralmente, muito cansada e pouco disposta a curar as suas mágoas, o que atrapalha o processo de cura.


Causa emocionais das principais doenças pulmonares:

  • Pneumonia - pode ser causada pelo desespero, mágoa profunda e falta de coragem para viver. Quem tem este problema pulmonar sente-se descrente, sem energia e apega-se à razão e à lógica como mecanismo de defesa. Para se curar deste mal, é necessário eliminar a mágoa, resgatar a confiança na vida e desenvolver formas mais leves e optimistas de pensar e sentir.

  • Asma - a recusa em admitir as circunstâncias da vida ou o medo de se envolver com as situações e de viver com mais espontaneidade e autonomia pode afectar as funções pulmonares e causar falta de ar ou espasmos durante a respiração, como acontece com a asma.

  • Pneumonia - reflecte um estado interior de cansaço da vida causado por feridas emocionais, decepções afectivas ou preocupações excessivas, que levam a pessoa ao cansaço de lutar em vão e ao desespero seguido de desânimo. A doença representa a somatização do estado de apatia, provocando no corpo a redução do oxigénio na corrente sanguínea. O processo de cura passa por saber lidar com a vida e os relacionamentos de forma mais lúcida e realista, sem criar falsas expectativas em relação às situações e pessoas, desenvolver o autovalor, independente da consideração dos outros, e procurar a auto-realização pela simples satisfação e não para agradar ou ter a aprovação alheia.

  • Tuberculose - pode ser proveniente de preocupações prolongadas ou duradouras, resultantes de uma mente aflita e de um coração angustiado e pesado. Para sair deste estado é necessário resgatar a fé na vida e procurar ver o lado positivo de tudo.

  • Bronquite asmática - pode ser adquirida na infância pelo sofrimento da criança com os conflitos dos seus pais e falta de amor no lar. Para superar esse desequilíbrio é preciso compreender o que passou, sem carregar ou atribuir culpas e libertar-se da frustração e insegurança causada pela desarmonia familiar.

  • Falta de ar (asfixia) – as pessoas que sofrem de asfixia podem sentir-se sufocadas com os seus desequilíbrios emocionais, preocupações, crenças limitantes e temores. Necessitam libertar-se dos seus medos confiando na Grande Sabedoria da Vida e deixar-se fluir com mais leveza e liberdade.

  • Tosse – é um reflexo instintivo de defesa para desobstruir as vias aéreas inferiores, que acontece para expelir toxicidades e muco acumulados nas vias respiratórias. O acto de tossir está relacionado ao desejo inconsciente de eliminar crenças e valores absorvidos ao longo da vida ou situações que provocam os conflitos internos. Metafisicamente, uma crise de tosse pode denunciar a necessidade de se desprender da confusão interior e o desejo de revisar as agressões sofridas, reprimidas internamente.


No fundo, os pulmões são considerados órgãos que possibilitam o contacto do ser com o ambiente. Estes órgãos refletem a capacidade de absorver o que existe ao nosso redor, bem como a forma como nos projectamos no meio que nos rodeia. Referem-se ao processo de troca, ao acto de dar e receber.


A respiração é, portanto, imprescindível à vida pois, sem ela, dificilmente conseguiremos resistir mais do que 3 minutos. Aliás, na filosofia yoga, a respiração é o pilar de todas as práticas, pois acredita-se que a longevidade depende do número de respirações que fazemos ao longo da vida; quanto mais vezes respiramos, menor será a duração do tempo de vida.


Daí a importância de tornar a respiração um acto consciente, de forma a prolongar o tempo de cada respiração, bem como controlar o próprio acto de respirar com paragens respiratórias designadas de Kumbhaka (técnica de retenção da respiração ou apneia voluntária).


Quando começamos a praticar yoga, aprendemos a tornar consciente o acto de respirar e, aos poucos, reaprendemos a utilizar a nossa capacidade pulmonar completa, tal como o fazíamos em bebés, altura em que utilizávamos a respiração abdominal e torácica, antes de sermos condicionados pelos nossos pensamentos e emoções.


Assim como o estado emocional influencia a qualidade da respiração, ao impormos, de forma consciente, um ritmo respiratório, também conseguimos alterar as nossas emoções, dominando o nosso equilíbrio psíquico. Ao oxigenar de forma controlada os sistemas internos, controlamos nossa energia vital (Prana) e conseguimos dominar as nossas emoções e pensamentos.


A respiração no Yoga


No yoga, as técnicas de controlo da respiração, são consideradas como uma etapa fundamental no processo de auto-conhecimento e de desenvolvimento psico-espiritual, que promovem a auto-disciplina necessária para trabalhar e compreender aspectos mais profundos da nossa existência, que vão além da dimensão corpórea, física, material.


Acalmar a respiração é reduzir as agitações da mente. Tal como a respiração, a actividade mental é espontânea e involuntária – não fazemos esforço nenhum para pensar ou respirar.


Mas, assim como podemos controlar os movimentos respiratórios, também podemos tomar controlo da actividade mental. Então, a respiração pode ser uma ferramenta essencial quando queremos acalmar num momento de grande tensão, quando meditamos sozinhos, ou quando outro tipo de técnica parece não resultar.


O foco na respiração obriga a mente a concentrar-se naquilo que acontece no presente momento. No aqui e agora. Meditar é tomar consciência de mim, neste preciso momento! É estar presente! No entanto, é necessária uma constante vigilância para manter a mente de mãos dadas com a respiração, num exercício permanente de autodisciplina.



Técnicas de controlo respiratório - Pranayama


A respiração no yoga é quase sempre nasal e suave, com algumas excepções em exercícios específicos. Inspiramos sempre pelo nariz, de forma profunda, lenta e ritmada, oxigenando e energizando o corpo físico. Exalamos mais lentamente ainda, também pelo nariz, optimizando a libertação de dióxido de carbono, promovendo uma sensação de bem-estar e relaxamento. Quanto mais profunda a exalação, mais intensa e completa será a posterior inalação.



Está provado e é cada vez mais evidente que a respiração controlada reduz o stress, aumenta o nível de autoconsciência e melhora o sistema imunitário. Ao longo de séculos, os yoguis têm usado técnicas de respiração controlada – pranayamas, para promover a concentração e melhorar a vitalidade.

Eis algumas dessas técnicas:


Respiração completa

A respiração completa é a base de todas as técnicas de controlo respiratório no yoga. Acontece em três zonas diferentes dos pulmões:

  • respiração abdominal ou diafragmática: nessa respiração utilizamos a zona inferior dos pulmões e exigimos mais do diafragma, o músculo situado na base dos pulmões e que auxilia no movimento respiratório. Quando inspiramos sentimos o diafragma a expandir na direção do abdómen, auxiliando na dilatação dos pulmões. Quando expiramos sentimos o diafragma a contrair, ajudando na expulsão do ar dos pulmões. Os músculos abdominais também se contraem, auxiliando no movimento.

  • respiração torácica: acontece na zona média dos pulmões. Durante a respiração sentimos a movimentação lateral das costelas, observando a expansão e retracção da caixa torácica.

  • respiração clavicular: nessa respiração utilizamos a zona superior dos pulmões, o que provoca uma suave elevação da cintura escapular, que pode auxiliar no alívio de tensões na região dos ombros e do pescoço.


Chandra Bhedana Pranayama

É uma técnica de respiração de relaxamento em que o ar é inalado através da narina esquerda e expirado através da narina direita. De acordo com a ciência do yoga, a narina esquerda corresponde a 'Chandra', que significa “lua”, ou 'Ida Nadi' (canal lunar), que existe ao longo da coluna vertebral. Este Nadi representa a qualidade calmante e relaxante da Lua no nosso corpo. Chandra ou lua rege os aspectos femininos e criativos de uma pessoa. Portanto, praticar Chandra bhedana é benéfico quando estamos stressados, ou precisamos de ideias criativas, quando nos falta a imaginação, a paixão e o interesse. Ele dá um efeito tranquilizante na mente e lida com funções cognitivas como atenção, processamento de formas visuais, padrões, emoções, ambiguidade verbal e significados implícitos. Todos esses aspectos são regidos apenas pelo cérebro direito e a respiração através da narina esquerda activa o hemisfério cerebral direito.



Surya Bhedana Pranayama

Utiliza a narina direita (Surya Nadi ou canal solar) para inspirar o ar, sendo a narina esquerda usada para expirar. Ao contrário da técnica anterior, esta gera calor e energiza “Pingala Nadi” - o canal de energia solar.


Nadi Shodhana Pranayama ou Anuloma Viloma

Nadi Sodhana significa purificação dos nadis. O exercício consiste na respiração alternada entre as duas narinas proporcionando uma limpeza dos canais ida e pingala e uma ativação do shusumna nadi (canal energético central). Com Vishnu mudra, tapar a narina direita com o polegar e inspirar pela esquerda, tapar a esquerda com o dedo anelar e expirar pela direita. Inspirar pela direita, tapar a narina direita e expirar pela esquerda. Repetir o ciclo.


Çatur Mukti

Inspirar pelas duas narinas. Olhar por cima do ombro esquerdo tapando a narina direita para expirar pela esquerda. Inspirar pelas 2 narinas e olhar em frente. Olhar à direita e tapar a narina esquerda, expirando pela direita. Inspirar pelas duas narinas e olhar em frente. tombar a cabeça à frente e expirar pelas duas narinas. Inspirar pelas duas narinas e olhar em frente. Tombar a cabeça para trás e expirar pelas duas narinas. Inspirar pelas duas narinas e olhar em frente. Repetir o ciclo.


Bhastrika Pranayama

Ou respiração de fole, consiste na aceleração dos ciclos respiratórios promovendo uma limpeza e desobstrução das vias respiratórias. Para saber mais sobre esta técnica, aceda ao seguinte artigo:



Muitas técnicas de pranayama datam da Índia antiga e foram estabelecidas ao mesmo tempo em que se desenvolveram outras técnicas de yoga (por volta dos séculos VI e V a.C.). A tradição yóguica tem revelado que a prática de pranayama pode, gradualmente, levar a mente a um estado de clareza, preparando-a para a meditação profunda.


A maneira como a respiração controlada promove a cura tem sido alvo de estudos científicos, nos tempos modernos. Uma teoria defende que pode mudar a resposta do sistema nervoso autónomo do corpo, que controla processos inconscientes tais como a frequência cardíaca e a digestão, assim como a resposta do corpo ao stress (Richard Brown, professor clínico associado de Psiquiatria da Universidade de Colúmbia e co autor do livro “The Healing Power of the Breath” (O Poder de Cura da Respiração).


Mudar conscientemente a maneira como respiramos parece enviar sinais ao cérebro para equilibrar o sistema parassimpático do sistema nervoso, que pode diminuir a frequência cardíaca e a velocidade da digestão e promover uma sensação de calma, e também ao sistema simpático, que controla a libertação das hormonas do stress, tais como o cortisol.


Respirar lenta, profunda e conscientemente mantém-nos presentes, e este é o fundamento base para a prática de meditação. É, também, uma forma de cultivarmos a atenção plena, que nos vai permitir esvaziar a mente da torrente de pensamentos que discorrem a todo o tempo.

Praticar uma respiração consciente é, ainda, uma oportunidade de contemplar os curtos e breves momentos da vida que, de outra forma, passam despercebidos à mente, mas que são a essência da vida simples e pura!










Namasté!

Maria João M.

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