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Medo, sistema imunitário e Yoga


São cada vez mais os estudos e as evidências que concluem a reciprocidade comunicativa entre os sistemas e circuitos internos do corpo humano. Cada vez mais nos aproximamos do conceito espiritual e ancestral de que tudo está ligado!


Na década de 30 o endocrinologista Hans Selye (1907—1982) foi o pioneiro a considerar os impactos biológicos decorrentes do stress. Desde então, estudos sobre interações anatómicas e funcionais entre os sistemas nervoso e imunológico avolumaram-se acentuadamente na comunidade científica.


A Psiconeuroimunologia — área de estudo que trata do relacionamento entre cérebro, comportamento e sistema imunológico — tem concluído que os estados emocionais possuem a capacidade de influenciar positiva ou negativamente o funcionamento do sistema imunológico. A psicossomática tem sido alvo de interesse de investigadores e terapeutas, e os seus estudos revelam que é possível concluir que diferentes esferas do ser humano, designadamente a emocional e a cognitiva, podem influenciar o funcionamento imunológico de um organismo, contribuindo para o seu aprimoramento e eficiência ou, de maneira oposta, para a sua perturbação e debilidade.


O stress psicossocial é um dos principais factores que, actualmente, mais contribui para a imunossupressão.

“Cada emoção tem um componente muscular, comportamental, bioquímico e uma função de sobrevivência” – Bottura (2007)

Mas o impacto de cada emoção na homeostase (equilíbrio dos sistemas internos) depende das atribuições e significado que damos às percepções que temos das experiências vividas.


O medo é uma emoção básica que tem a mesma função do sistema imunológico, ou seja, proteger o organismo contra a ameaça e o perigo. Trata-se de uma reacção involuntária, natural e desejável, que acciona uma resposta do cérebro reptiliano, que inclui o processamento da resposta luta ou fuga por parte da amígdala e o arquivo de memórias emocionais por parte do hipocampo.


Embora necessário em situações de perigo, o medo torna-se insustentável quando accionado a toda a hora, pois como a resposta fisiológica a estas situações liberta uma série de substâncias químicas, como a adrenalina e o cortisol, que embora nos ajudem a reagir rapidamente, aumentam a nossa frequência cardíaca, aceleram a respiração, deixam-nos super-alerta e desencadeiam uma série de pensamentos/sentimentos com vibração de baixa frequência, que nos impedem de viver com alegria e prazer.


A mente negativa cria medos imaginários sobre cenários hipotéticos, que são alimentados e aumentados pelas emoções negativas, pensamentos derrotistas, notícias sensacionalistas, filmes violentos ou dramáticos, informação pouco fidedigna, relacionamentos tóxicos, crítica e julgamentos, reclamações e mexericos, etc. O medo disfarça-se de muitos outros sentimentos: insegurança, ansiedade, preocupação, nervosismo, baixa auto-estima, desconfiança, vergonha, procrastinação, depressão...



Epicuro (341 aC – 271/270 aC) foi o antigo filósofo grego que mais abordou a questão do medo. O objectivo deste pensador era fazer uma filosofia para alcançar a felicidade, na qual destacava a superação dos medos como condição para alcançar a realização.


Nesse sentido, Epicuro diferenciou quatro tipos de medo no ser humano:

  • O medo dos deuses: ele reconhecia que a ideia dos deuses era usada para manipular as pessoas e sua proposta para superar esse medo era reconhecer os deuses como sábios separados do mundo, porque eles nunca se preocupariam com o que os humanos estão fazendo ou não.

  • O medo da morte: Epicuro também argumentou que não devemos temer a morte, pois esta consiste na falta de sensação. Dessa forma, não faz sentido ter medo de algo que nunca sentiremos. Ele também explicou que enquanto existirmos, a morte não estará presente e, quando estiver presente, não existiremos.

  • Medo da dor: por um lado, esse tipo de medo faz parte da natureza humana, pois aparece quando não podemos satisfazer nossos desejos naturais e necessários (fome, frio, sede etc.). Mas, por outro lado, também podemos sentir dor quando não satisfazemos desejos desnecessários, como luxos ou caprichos.

  • O medo do fracasso na busca do bem: o bem se alcança pela felicidade para esse filósofo, mas a felicidade consiste em ser mais, não em ter mais. Dito isso, alguém que acredita que a felicidade depende de fatores externos julga mal e se submete a coisas que estão fora de seu controle (como a opinião dos outros ou recompensas externas).



A filosofia yoga aborda a questão do medo, referindo-o como uma das cinco fontes de sofrimento humano. Na obra “Yoga Sutras”, Patanjali, o seu autor, escreve:

svarasavāhī viduṣo'pi tathārūḍho'bhiniveśaḥ || 2.9 ||

Patanjali explica que consideramos a morte um processo doloroso porque acreditamos que na hora de partir, tudo ficará para trás: o corpo que valorizamos tão profundamente desaparecerá, perderemos os nossos entes queridos, bem como o nosso dinheiro, poder, prestígio, honra e dignidade. A ideia de perder tudo o que nos dá identidade é assustadora, assim como o desconhecimento do que virá! Esse medo é a causa-raiz da dor e é praticamente incurável. Este medo generalizado tem as suas raízes na nossa falta de compreensão de que existe algo mais precioso do que os nossos corpos, os nossos entes queridos e os nossos bens mundanos.


abhiniveśaḥ = abhi + ni + veśa

abhi - de todas as direções; em torno da

ni - sem deixar nada; completamente

veśa - penetrante; piercing


Juntas, a palavra abhiniveśaḥ significa aquilo que penetrou em todos os seres vivos, de todos os lados, em todos os aspectos. Abhiniveśaḥ passou a significar a morte e o medo da morte porque, tanto a morte quanto o medo dela, penetraram em todos os cantos da consciência corporificada. Abhinivesha é o medo supremo, a raiz de todos os outros medos em vida, pois o ser humano está geneticamente programado para a sobrevivência.


O medo é fundamental para a preservação da vida porque nos dá sentido de alerta e consciência sobre os perigos à nossa volta e ajuda a tomarmos decisões informadas, o que nos permite estar sempre preparados para reagir rapidamente às mudanças no ambiente e a saber como agir diante as situações de perigo. Podemos usar o medo como uma ferramenta motivacional para nos levar a não desistir e a acreditar que tudo pode ser possível.


No entanto, a super-estimulação dos sistemas internos com factores stressantes acciona ininterruptamente a nossa resposta luta-fuga, o que provoca distúrbios na homeostase do organismo, pois a libertação de hormonas de stress impulsiona uma série de outras respostas fisiológicas de levam o organismo a responder rapidamente à situação considerada perigosa, em vez de canalizarem a sua energia para o normal funcionamento dos sistemas internos, em particular do sistema nervoso central, sistema cárdio-respiratório, circulatório e digestivo. Portanto, a saúde integral fica comprometida.



Nesta perspectiva, o medo bloqueia-nos, impede-nos de viver livremente, de usufruir dos pequenos prazeres da vida. Na maioria das vezes, vem disfarçado de outros sentimentos e emoções: preocupação, ansiedade, vergonha, nervosismo, isolamento, agressividade, etc.


A tomada de consciência dos nossos comportamentos, pensamentos e sentimentos leva-nos à origem da nossa resposta instintiva/impulsiva: o medo. Por exemplo, a vergonha pode ser entendida como o medo da exposição ou da rejeição.


Às vezes parece que tudo o que nos é caro – a saúde, a segurança, a estabilidade política – tudo é incerto. Queremos que a vida se acalme, mas isso não acontece, preocupamo-nos em demasia com situações que ainda não ocorreram, e começamos a ficar obcecados com estratégias de sobrevivência diante dos “se isto acontecer”, estamos a vivenciar abhiniveśaḥ.


Ficar preso na identificação com o corpo faz-nos acreditar que a felicidade depende do conforto físico, da segurança, do bem-estar – de todas as coisas boas que desejamos para nós mesmos e para aqueles que amamos. Mas manter esta crença significa que quando ficamos velhos, doentes, feridos ou perdemos as condições nas quais a nossa felicidade dependia, sofremos. Como seres humanos, ficaremos velhos e doentes, perderemos a nossa felicidade condicional, porque essa é a natureza da existência mundana – tudo é transitório. Sofremos porque tentamos desesperadamente nos apegar a coisas que não podem durar. Este apego movido pelo medo tem as suas raízes na nossa incapacidade de compreender que existe algo mais precioso do que os nossos corpos, os nossos bens, os nossos papéis percebidos no mundo.


Uma pessoa que vive constantemente com medo ou ansiedade, morre repetidas vezes enquanto ainda está viva! Vive em constante sofrimento. Sobrevive, lutando diariamente contra a sua mente negativa e a somatização desta forma de ser no seu sentir corpóreo, na maioria das vezes em situações de falta de saúde, devido ao desequilíbrio interno dos sistemas auto-reguladores.



As práticas descritas no Yoga Sutra prometem atenuar este sofrimento, pois ajudam o praticante a desenvolver a capacidade de observação sem julgamento, de acção sem recompensa e de desidentificação do ego pela via da auto-reflexão e auto-conhecimento, promovendo momentos de silêncio e vazio interior com vista ao encontro da essência Divina individual, ou seja, momentos para nos relembrar-mos da nossa verdadeira natureza, para além das ilusões criadas pela mente e seus pensamentos, sentimentos e memórias, que provêm de percepções subjectivas da realidade mundana e ideias implantadas que condicionam a nossa existência, e nos levam a identificar com o que representamos e expressamos através do nosso corpo/mente/ego.


É, também, por via do corpo/mente que a metodologia yoga encontra caminho para abrir as portas da percepção, limpando o corpo físico com práticas de posturas psicofísicas, purificando o corpo energético com técnicas de pranayama, clareando o corpo mental e apaziguando as dores do corpo emocional com práticas meditativas e auto-estudo.


O equilíbrio que a prática do yoga proporciona e o caminho em busca da superação através da disciplina, são formas de autoconhecimento que tornam possível, não apenas superar os medos, mas também descobrir mais sobre eles e aceitá-los, assim como nos ensinam a lidar com as nossas próprias emoções.



Desenvolva coragem e supere os seus medos com Yoga


Equilíbrio hormonal

A coragem, a motivação, a auto-confiança e determinação estão ligadas aos nossos níveis hormonais. Quando em desequilíbrio, dificilmente alcançaremos o nosso potencial máximo.

Com os exercícios de relaxamento, o yoga equilibra a produção hormonal no organismo, recuperando a homeostase, o que ajuda a reduzir os níveis de ansiedade, e a aumentar a força e energia pessoal.


Autoconhecimento

Com as práticas de meditação e relaxamento do corpo e mente, o yoga convida a refletir sobre a própria vida e as circunstâncias que nos rodeiam. Descobrir os pontos ainda desconhecidos da própria mente, e saber quais são os gatilhos que geram o medo, traz mais segurança para seguir adiante!


Aumento da consciência corporal

O corpo é um organismo que precisa de constantes estímulos para que atinja o seu potencial máximo. A prática constante e frequente de yoga leva ao aumento dos conhecimentos acerca do próprio corpo, aumentando o nível de percepção espácio-temporal. Esta combinação entre o corpo e a mente traz um ganho consistente de sensibilidade, aumentando a consciência corporal!


Melhora a disposição

Com a prática consistente, é notório o ganho na disposição física e psico-emocional. Grande parte da boa disposição e energia para realizar as actividades do dia a dia provém do equilíbrio de substâncias no organismo. O yoga aumenta os níveis hormonais que trazem sensações prazerosas, e reduz aqueles que nos impedem de atingir maiores potenciais. Esse aumento de disposição garante a vitalidade para se querer superar e sentir que é possível.


Aumenta a concentração

O yoga estimula muito a introspecção. Durante os exercícios de respiração, isso fica ainda mais evidente, pois o aluno chega a estados mais profundos de consciência, que não são alcançados no dia a dia. Ficar num estado de consciência profundo por vários minutos, aumenta o nível de concentração, que se estende pelo dia. A concentração é uma das chaves para um melhor desenvolvimento de habilidades internas e garante o aumento do foco para tarefas e da competência daquilo que se desenvolve, quer a nível de relacionamentos, trabalho ou desafios pessoais.


Estimula a autorreflexão

Hoje em dia, com a vida agitada em que a maioria de nós vive, torna-se cada vez mais difícil dedicar momentos para si. Tais pausas, que o yoga tão bem proporciona, são essenciais para a autorreflexão, pois ajudam a elucidar a mente para questões existenciais, ensinando a apreciar a dádiva da vida e o agora. O yoga ensina a lidar com as adversidades com mais calma, a superar os momentos difícil, a saber aproveitar as coisas boas da vida, com equilíbrio, a saber estar presente em cada momento, experienciando o prazer de viver.


Desenvolve a inteligência emocional

A falta de inteligência emocional faz com que o medo domine a mente, e como consequência, a forma como lidamos com as situações ou pessoas. Um dos melhores benefícios do yoga é a autopercepção dos sentimentos e emoções, ajudando-nos a não nos deixarmos levar por eles, conseguindo ter mais equilíbrio para encarar os desafios da vida e lidando com mais resiliência diante de frustrações e perdas — condições desafiadoras para o ser humano!


Fortalece o corpo

Um corpo fortalecido é motivo para ter mais auto-confiança para enfrentar desafios sem deixar o medo dominar. Com o corpo mais forte e resiliente, superar situações que desafiam o físico, o mental e o emocional, será mais fácil.





Para ajudar a superar os seus medos e desafios físicos, psicológicos e emocionais, pode contar com o acompanhamento profissional de Yoga PuroPrana em de sessões de yoga, sessões de meditação, treino respiratório, yogaterapia, yoga mamãs e massagens Thai Yoga.


Visite-nos ou contacte para mais informações:


Se não tem como estar presente, pode aderir ao Holística ASSP, uma parceria de Yoga PuroPrana com a Associação de Solidariedade Social dos Professores, para acompanhamento online, com sessões em directo e gravadas. Estas sessões são gratuitas para os associados da ASSP.

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Namaste!

Maria João

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