Há muitos milhares de anos atrás, nas origens da vida na terra, na era de SatyaYuga, o deus Brahma, uma das três grandes divindades hindus, adormeceu e deixou escapar os seus quatro livros do conhecimento - Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda (os Vedas). Um qualquer demónio, cuja identidade parece variar mediante a versão, viu-os e fugiu com eles, engolindo-os para dificultar a sua recuperação.
Certo dia, o rei Satyavrat, também conhecido como Shraddhadeva ou Vaivasvata Manu, considerado o primeiro homem na terra, devoto de Vishnu, estava junto a um rio em rituais de oferenda aos Deuses, juntando água nas palmas das mãos enquanto cantava um mantra da divindade no rio Kritmala, quando, junto com a água, apanhou uma pequenina carpa dourada que lhe pediu protecção, pois tinha medo que os peixes grandes do rio a devorassem. Era dever de um rei proteger todos que pedissem protecção e, assim, o rei Satyavrat colocou o peixe num pote com água e levou consigo.
Mas, no dia seguinte, quando foi ver do peixe, ele tinha crescido ocupando agora todo o pote de água. Manu mudou o peixe para uma pequena poça, mas no dia seguinte o peixe estava já do tamanho da poça de água. O rei mudou novamente o peixe para um lago, mas o peixe voltou a crescer e ficou do tamanho do lago. Shraddhadeva não teve outra opção e levou o peixe para o mar. Foi então que Matsya, o peixe, se dirigiu novamente para Manu informando-o que era o Deus Vishnu encarnado na terra em forma de peixe, para recuperar as escrituras sagradas, roubadas pelo demónio, bem como para avisar Manu do grande dilúvio que se aproximava e que iria destruir todo o mundo. Como tal, pediu-lhe que juntasse a sua família, todos os animais, espécies de plantas, assim como as escrituras sagradas, depois de recuperadas ao demónio que tinha roubado os quatro Vedas e se tinha escondido algures na terra. Com o díluvio e a subida das águas o demónio foi forçado a abandonar o seu esconderijo e, quando o fez, Matsya encontrou-o e atacou-o, esventrando este seu opositor e conseguindo recuperar os tais livros do conhecimento.
As espécies de animais e plantas, bem como a família do primeiro homem na terra ficaram a salvo num barco construído para superar o díluvio e puderam, assim, repopular a terra após a catástrofe e restituir o dharma.
Na iconografia, Matsya tanto pode ser visto como uma figura zoomórfica (como um peixe gigante com chifre), ou antropomórfica, na forma de um torso humano conectado à metade traseira de um peixe.
Matsyasana
A mitologia hindu tem grande impacto na cultura e espiritualidade da Índia, desde tempos ancestrais. Também o Yoga se inspira nos contos sobre eventos e figuras mitológicas, como deuses e semideuses, sábios, reis, avatares, animais e plantas.
Matsya serve, então, de inspiração para a postura do peixe: Matsyasana. Na figura em baixo, podemos ver uma variação da postura, com as pernas em padmasana, na posição de lótus.
A postura do peixe é assim denominada devido ao mito de Matsyāvatāra, a encarnação divina em forma de peixe (Matsya), o primeiro avatar de Vishnu, cuja lenda é descrita em cima.
Também o mito de Matsyendranātha, o primeiro dos siddhas (sábios yogis) está presente no nome deste āsana, pois Matsyendra significa "senhor dos peixes" em sânscrito. Esta lenda explica a origem do Haṭha Yoga através da história do pescador Matsyendranātha que é engolido por um gigantesco peixe, onde permaneceu por 12 anos. Dentro do ventre do animal, ouve Śiva a transmitir à sua esposa Pārvatī o conhecimento do Haṭha Yoga. Ao libertar-se do peixe, o pescador começou a aplicar e transmitir esses ensinamentos aos homens, sendo considerado como o fundador das tradições Kaula e Natha.
Matsyāsana é descrita nos textos clássicos, como o Hatha Yoga Pradipika, como uma postura altamente benéfica, "destruidora de doenças", pois actua no 3º, 4º, 5º e 7º chakras. É altamente rajásica (activa) e excelente para elevar a energia vital, fortalecer a musculatura torácica, regular a respiração, melhorar o sistema imunológico e actuar nas glândulas pineal, pituitária, tiróide e gónodas.
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