Neste último artigo da série “Yoga das emoções”, vamos debruçar-nos sobre tensão acumulada na zona da mandíbula ou maxilar, que se pode tornar particularmente intensa em períodos de maior stress.
A articulação temporomandibular (ATM) é o nome da articulação que se localiza próxima do ouvido, de ambos os lados da face, e que une o osso temporal à mandíbula. Além de ser constituída por ossos, a ATM é composta por estruturas ligamentares, musculares, fasciais e meniscos. Comanda também todos os movimentos da mandíbula incluindo comer, falar e mastigar.
Apesar de ser uma articulação com um tamanho reduzido comparativamente a outras articulações, a ATM é uma das partes mais complexas e importantes do corpo humano, não só para as acções de mastigação, fala e respiração, mas porque tem repercussões por todo o corpo, nomeadamente pescoço, ombros, costas e bacia. Tanto assim é que desalinhamentos das estruturas vertebrais podem ter origem na tensão criada nesta pequena articulação.
A tensão mandibular, quando não abordada, pode levar a problemas a longo prazo como a disfunção da articulação temporomandibular (DTM), o que causa ainda mais dor e desconforto. Além disso, a ansiedade crónica pode afectar a saúde de uma forma mais ampla, aumentando os riscos de problemas cardíacos, digestivos, de sono e de saúde mental.
Para localizar a ATM, posicione seus dedos logo em frente das orelhas, por baixo das maçãs do rosto, onde encontra uma pequena cavidade que aumenta ligeiramente de tamanho quando abra e feche a boca. Com este movimento consegue sentir as articulações temporomandibulares, uma de cada lado do rosto, movimentarem-se sob seus dedos.
Se costuma sentir tensão, desconforto ou dor no pescoço, cabeça, nas estruturas e tecidos e músculos faciais ou range os dentes à noite, pode ser um sinal de que há excesso de energia hiperativa ou estagnada nesta parte do corpo.
Sintomas mais comuns da disfunção da ATM:
Ruídos articulares (estalidos/crepitações ou sensação de “click” que surgem ao abrir e/ou fechar a boca);
Dor e/ou dificuldade nos movimentos como abrir e/ou fechar a boca;
Dores de cabeça na região da testa, fundo de olho e nas têmporas;
Dor semelhante à dor de ouvidos;
Dor na região do pescoço/cervical e ombros;
Bruxismo: movimento involuntário, caraterizado pelo apertar e ranger dos dentes, onde é aplicada uma força excessiva na musculatura mastigatória, provocando um desgaste dos dentes;
Zumbidos no ouvido;
Dificuldade para mastigar, principalmente alimentos duros;
Dores durante a mastigação;
Tonturas;
Vertigens;
Desgaste dental excessivo;
Sensação de travar a mandíbula.
Causas da tensão na articulação temporomandibular (ATM)
Por se tratar de uma disfunção ainda pouco conhecida, em muitos casos, não foram encontradas claramente as causas para a disfunção da ATM, no entanto, para além de questões fisiológicas e biomecânicas, como desalinhamentos odontológicos e inflamações articulares, estão associadas questões psicoemocionais, tais como o stress, a ansiedade, a depressão e emoções intensamente contidas, com especial enfoque para a raiva.
Emoções de raiva e ressentimento costumam ficar presas na mandíbula e em redor da boca. A raiva é como uma onda que nos pode envolver de maneira intensa e surpreendente. É uma resposta natural a situações que percebemos como ameaçadoras, injustas ou frustrantes. Sentimos isso quando algo não está de acordo com nossas expectativas ou quando nos deparamos com obstáculos. No entanto, é uma emoção mal compreendida e pouco aceite socialmente, tanto assim é que é reprimida desde a infância. Quantas vezes crianças com atitudes agressivas são castigadas ou duramente repreendidas? Aprendemos, desde cedo a calar a nossa raiva, ao ponto desta energia ficar acumulada no nosso corpo, com especial destaque para a zona temporomandibular.
Expressar a raiva é parte integrante de ser humano. No entanto, a forma como escolhemos expressá-la pode ter um impacto profundo em nossos relacionamentos e bem-estar emocional. Algumas pessoas libertam essa emoção imediatamente, enquanto outras a reprimem. Encontrar o equilíbrio entre a expressão saudável e a supressão é fundamental para nosso bem-estar. Enquanto algumas pessoas podem sentir a necessidade de confrontar a fonte de frustração, outras preferem isolar-se. Gritar, bater portas ou até mesmo ficar em silêncio são expressões comuns dessa emoção.
A raiva não se limita ao físico e ao comportamental; ela também afecta nosso estado emocional. Sentimo-nos irritados, frustrados e, às vezes, impotentes. Essa mistura de emoções pode ser avassaladora, especialmente quando não temos estratégias para lidar com ela.
Os sintomas físicos são muitas vezes os primeiros a aparecer, como o batimento cardíaco acelerado, tensão muscular e até mesmo a sensação de calor no rosto. É quase como se o corpo se estivesse a preparar para uma batalha, mesmo que ela seja apenas emocional. Quando os sintomas comportamentais aparecem, eles podem afectar as nossas relações e bem-estar. Além dos aspectos físicos e comportamentais, a raiva também provoca uma série de sintomas emocionais. Sentimentos de frustração, irritabilidade e até mesmo impotência podem se misturar num turbilhão emocional.
Os nossos pensamentos, crenças e experiências passadas podem agir como factores internos que desencadeiam a raiva. Muitas vezes, as nossas expectativas não são atendidas e essa desconexão entre o que esperamos e o que realmente acontece pode gerar frustração e ressentimento. Por outro lado, à nossa volta o mundo é cheio de desafios e obstáculos que podem acender a chama da raiva. Situações de conflito, injustiça ou até mesmo falta de controle sobre eventos podem deixar-nos com uma sensação de impotência.
Às vezes, a raiva não surge de um evento isolado, mas do acúmulo de stress ao longo do tempo. Quando enfrentamos exigências constantes e não encontramos maneiras saudáveis de lidar com elas, a nossa capacidade de gerir emoções pode esgotar-se.
Compreender as causas da raiva é o primeiro passo para desenvolver estratégias eficazes de gestão emocional e construir relações saudáveis consigo mesmo e com os outros. Reconhecer o impacto da raiva nas relações interpessoais é o primeiro passo para promover mudanças positivas. Seja em casa, no trabalho ou em circunstâncias sociais, cultivar a consciência emocional e buscar soluções construtivas é essencial para garantir relacionamentos saudáveis e produtivos. Desenvolver habilidades de controle da raiva e gestão emocional é fundamental para criar um ambiente positivo à nossa volta. A promoção de comunicação aberta e respeitosa, aliada a práticas de relaxamento e estratégias de coping (em tradução literal do inglês, significa lidar, reagir de maneira efetiva diante de uma situação desafiadora, estressante, problemática), pode ajudar a minimizar os efeitos negativos da raiva.
É fundamental que tais estratégias sejam ensinadas às crianças para que, desde cedo, consigam reconhecer e lidar com as emoções intensas (não necessariamente negativas!). E como seria maravilhoso se estas competências fossem incluídas nos planos curriculares, pois são deveras muitos mais importantes adquirir do que os inúmeros assuntos e conteúdos sem aplicabilidade prática.
No entanto, quando há dificuldade em gerir emoções tão intensas como a raiva, a frustração e a ansiedade, para além de procurar ajuda profissional, é crucial praticar o autocuidado, o que envolve adoptar medidas para promover o bem-estar emocional e físico. Práticas de relaxamento, como a meditação e a respiração profunda, podem ser eficazes para acalmar a mente e reduzir a intensidade emocional.
O autocuidado também engloba a aplicação de estratégias de coping saudáveis, incluindo o desenvolvimento de habilidades de comunicação para expressar a raiva de maneira construtiva e assertiva. Além disso, é importante estabelecer limites saudáveis e praticar a autorreflexão para entender melhor as causas subjacentes da raiva.
Estratégias para alívio da tensão na ATM
Uma maneira rápida e simples de libertar a tensão da mandíbula é simular o acto de bocejar: abra a mandíbula o máximo que for confortável e respire fundo, mantendo a boca aberta enquanto expira, talvez conectando as cordas vocais para fazer um som enquanto suspira. Pode fazer isto sempre que notar um aperto na mandíbula, seja no início da prática de autocuidado ou logo após um confronto ou situação de stress.
Se a dor estiver em redor das têmporas e da articulação temporomandibular (o ponto onde o maxilar se conecta ao crânio), experimente uma automassagem que começa nas têmporas e, em seguida, desce pela borda inferior da mandíbula, com os polegares e os dedos indicadores.
Veja como fazer neste vídeo:
Técnicas de relaxamento, como meditação, práticas de respiração e yoga, podem ajudar a reduzir a tensão muscular e também a ansiedade. Além disso, exercícios específicos para a mandíbula, prescritos por um fisioterapeuta ou um dentista, também podem ser úteis para aliviar a tensão local.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem-se mostrado como uma das estratégias mais eficazes no tratamento da ansiedade. Esta forma de terapia ajuda as pessoas a reconhecer e mudar padrões disfuncionais de pensamento e comportamento que reforçam a ansiedade e o stress.
Uma outra estratégia que também pode ter um resultado benéfico em ambos os sintomas é a acupuntura que, através da manipulação e introdução de agulhas na superfície da pele em regiões específicas do corpo, pode promover o alívio da tensão local e equilíbrio emocional.
Lidar com a raiva é uma jornada contínua, e cada passo dado em direcção ao entendimento e domínio das emoções contribui para uma vida mais equilibrada e gratificante.
Permitamo-nos abraçar a nossa jornada de autodescoberta e crescimento pessoal. A raiva não é apenas uma emoção negativa, mas sim uma oportunidade para desenvolver a Inteligência emocional e aprofundar as relações com nós mesmos e com os outros.
Namaste!
Maria João
Literatura interessante sobre o tema:
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