Manomaya kosha é a dimensão da consciência mental, composto por manas, uma palavra sânscrita que significa “mente”, a consciência instintiva, os pensamentos e a percepção. Dentro do manomaya kosha, os pensamentos e as acções acontecem automaticamente, sem controlo consciente. É esta camada de consciência que cuida das nossas necessidades e desejos básicos, como os de segurança e protecção, criando a personalidade e o ego, ou seja, a ilusão de separação.
Manomaya kosha forma o reino da mente e dos cinco órgãos dos sentidos. Capta a informação deles proveniente e processa-a, rotula e organiza todos os pensamentos, emoções e experiências. É uma construção formada pela educação, condicionamento social e experiências pessoais. É uma vibração ressonante, não o eu absoluto, tal como o seu corpo físico é um recipiente, mas não a soma de quem é. O verdadeiro ‘Eu’, de acordo com a filosofia do yoga, é a alma ou “Atman”.
Como todos os koshas, Manomaya é interactivo e depende das outras camadas do corpo. Mas como a mente é complexa e detém um enorme poder, pode dominar os invólucros exteriores: annamaya kosha e pranamaya kosha. O corpo mental é o campo através do qual o corpo físico opera. Tem controlo sobre as funções do corpo através de pranamaya kosha. Por outras palavras, a mente decide, o prana é activado e o corpo move-se.
E se a mente é agitada, suga-nos para o seu turbilhão de pensamentos, desperta emoções e impede-nos de ver objectivamente. Não consegue discernir o certo do errado, a verdade da falsidade, porque não temos acesso ao intelecto superior. Quanto mais dispersa for a mente, menos capacidade teremos para lidar com as complexidades da vida diária.
O trabalho espiritual limpa a mente de vrittis (pensamento acelerado e automático) e restaura a percepção de totalidade. Envolve libertar desejos egoístas e medos irracionais. É um processo de desaprender, de abandonar conceitos e histórias limitadoras. Quanto mais nos entregamos, mais calmos e claros nos tornamos.
Este é, precisamente, o objectivo do yoga! Reduzir as agitações da mente (Vrittis). No Yoga Sutra, as antigas escrituras que dão suporte teórico à filosofia prática que é o Yoga, o seu compilador, Patanjali, deixa claro:
Método de Patanjali para acalmar uma mente turbulenta
Na prática de yoga podemos trazer foco e clareza à mente com a meditação. Muitas vezes, isso é feito sentado em silêncio e quietude, limitando as distrações. Nos 8 Membros da filosofia do yoga de Patanjali, este foco interior é designado por Pratyahara.
Antes de os humanos registarem a informação em livros, o conhecimento era partilhado através de histórias e canções. Os antigos yogis usavam cantos e mantras desta forma e acreditavam na existência de sons fonéticos diferentes para cada parte do corpo, incluindo os chakras. O tom, o volume e o ritmo que utilizavam também têm efeitos diferentes. Mantra é uma ferramenta utilizada, desde tempos remotos, para focar a mente, aspecto mencionado na filosofia yoga como Dharana.
Por outro lado, quando nos deparamos com uma emoção que perturba a mente, Patanjali também nos aconselha a concentrar a atenção no seu oposto. Ao surgir um sentimento de raiva, podemos respirar fundo e concentrar-nos na paz. Quando nos sentimos tristes ou deprimidos, podemos meditar sobre a alegria e a leveza. Isto não significa que ignoremos a presença da energia que sentimos. Simplesmente, não estamos a tentar suprimi-la. Estamos a regular o fluxo de energia para restaurar o equilíbrio suficiente para nos permitir funcionar.
Durante a execução de asanas, a mente surge com todo o tipo de pensamentos sobre a nossa prática – a nossa capacidade, força, equilíbrio. Ela comenta sobre as posturas de outras pessoas, sobre o professor ou o método de ensino, faz suposições, julga e, por vezes, é dominada pela emoção. Ficar preso aos comentários constantes da mente é uma forma segura de acabar frustrado ou infeliz! Mas tudo faz parte do processo. É assim que a mente funciona.
Mas podemos usar a nossa prática para desenvolver as funções superiores de Manomaya Kosha, de modo a podermos avançar para os invólucros internos mais subtis sem obstáculos. A concentração que colocamos na respiração, nas posturas e no ponto de olhar durante a prática de asanas ajuda a treinar a mente para se manter presente. Em vez de sermos atraídos pelas histórias que contamos a nós próprios sobre as nossas experiências, ao mantermos a atenção na respiração, no asana e no olhar, tornamo-nos mais capazes de simplesmente perceber o diálogo mental à medida que ele surge e de o deixar desaparecer à medida que medida que tomamos consciência dele.
Da próxima vez que se envolver nas histórias que conta a si próprio, repare que isso aconteceu e volte a sua atenção para a respiração. Este constante retorno do foco à respiração dá trabalho, mas acaba por se tornar uma prática inerente que nos permite ser mais uma testemunha da nossa mente, em vez de sermos mantidos nas garras dos nossos pensamentos.
O funcionamento da mente, na filosofia Yoga
A mente é o veículo de inteligência, dotado de incríveis ferramentas que permitem à alma operar neste organismo vivo a que chamamos "eu". Mas a mente, devido a todas as suas capacidades sensoriais, intelectuais e emocionais, sujeita-se aos condicionamentos do meio que conhece e no qual procura subsistir, aprisionando o intelecto superior, isto é, a forma mais elevada de manifestação da mente.
Na psicologia do Yoga, um condicionamento é designado Vasana.
Um Vasana adormecido é um Samskara (impressão/registo kármica) e um Vasana activo é um Vritti (turbilhão de pensamentos e emoções).
Vritti é, portanto, uma flutuação dentro do campo mental, Manomaya Kosha. Quanto mais vrittis estiverem presentes no Manomaya Kosha, mais fragmentada se tornará a mente.
A prática espiritual limpa os Koshas dos condicionamentos da mente. Sem condicionamentos não há gatilhos, sem gatilhos os pensamentos e as emoções permanecem sob o controlo do intelecto superior. Com uma prática paciente e vigilante, podemos aprender a perceber um Vasana à medida que sobe, a abrirmo-nos ao seu fluxo e a deixá-lo passar. A entrega exige um nível profundo de desprendimento e consciência, e um forte desejo de libertação. Para a maioria, é também necessária alguma forma de prática regular de limpezas, purificações e meditação.
Quando um Samskara é accionado, sai do seu estado adormecido e torna-se um Vritti. Isto pode acontecer durante a meditação ou durante a vida diária. É por isso que manter um estado meditativo de consciência ao longo do dia é o cerne do trabalho espiritual. Quando um Samskara adormecido dispara e não estamos centrados na consciência da alma, o conflito perturba o equilíbrio da nossa mente. Ficamos zangados, encolhemo-nos de medo, mentimos, traímos, roubamos, imploramos e manipulamos – tudo o que proporciona a realização dos nossos desejos ou nos ajuda a escapar aos nossos medos. Por vezes, o vritti pode surgir e ser libertado num piscar de olhos. Outras vezes, pode levar dias ou anos de trabalho interno para o deixar ir.
Os constituintes da mente, na filosofia Yoga
Existem quatro funções da mente:
Manas = mente sensorial e processante. Os dez sentidos (indriyas) são dirigidos por Manas.
Chitta = banco de memória, que armazena impressões e experiências e, embora possa ser muito útil, Chitta também pode causar dificuldades se o seu funcionamento não for coordenado com os outros.
Ahamkara = "criador de eu" ou Ego
Buddhi = conhece, decide, julga e discrimina (intelecto)
A funções da mente são como quatro raios que impulsionam a roda para operar na estrada exterior da vida. - Swami J
Enquanto a roda gira, o eixo central permanece imóvel, como o centro da consciência, o Eu. Embora o centro seja a fonte da energia que move a roda da vida, o próprio centro não se move.
Para conhecer o centro (o Eu), é necessário passar pelos raios. Não se deve apenas observar, aceitar e compreender as funções da mente, mas também treiná-las. Conhecer e treinar as quatro funções, ou raios, é essencial para chegar ao centro da roda. Isto é feito de forma sistemática no processo de meditação do Yoga.
Para estabelecer a coordenação entre estas funções da mente, é necessário:
Observar o funcionamento da mente através das acções e do discurso.
Ao mesmo tempo, observar o processo de pensamento interno.
Observar o funcionamento da mente através das acções e do discurso significa que os movimentos e as palavras são um reflexo do que se passa na própria mente. Observamos frequentemente os gestos e a linguagem corporal de outras pessoas e inferimos o que se passa com essa pessoa. Embora nem sempre estejamos correctos, todos o fazemos com algum grau de precisão. Podemos fazer a mesma coisa connosco próprios, aprendendo sobre os nossos estados mentais e emocionais internos, observando os nossos próprios gestos e linguagem corporal, as nossas próprias acções e discurso.
Ao observá-las, observe também o processo de pensamento interno. Para um praticante de meditação, isto significa observar as quatro funções da mente:
No momento em que estão a funcionar;
Independentemente umas das outras;
À medida que interagem entre si.
Embora possa levar algum tempo a aprender, é extremamente proveitoso quando praticado durante algum tempo. Torna-se muito fácil e natural observar as nossas acções, discursos e pensamentos. Traz uma maior consciência e uma sensação de paz interior.
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Ao conseguirmos acalmar a mente aquando de uma experiência esmagadora ou de uma emoção difícil (dentro ou fora do tapete), sentimos o potencial de Manomaya Kosha: a capacidade de sair de padrões de pensamento que não nos servem.
A mente é uma força poderosa, mas temos a capacidade de a treinar de modo a fluir harmoniosamente com a vida. Este é o potencial do Manomaya Kosha.
Namaste!
MJ
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