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Equilíbrio homeostático através de práticas de limpeza e purificação

Chegado o Outono, começamos a preparar o corpo, mente e espírito para o período frio e húmido, propício à proliferação de agentes nocivos à saúde e ao equilíbrio homeostático. Durante este período, o sistema imunológico é mais propenso a respostas inflamatórias, devido à tendência da expressão de genes pró-inflamatórios durante inverno. Daí a importância de iniciarmos práticas que ajudem o nosso organismo a manter-se saudável.


Na ética e filosofia yoga são mencionados algumas práticas que promovem a limpeza e purificação do corpo bio-energético, através de conceitos como: movimento energético de eliminação (apana vayu), práticas de limpeza e purificação (kriya yoga e shatkarma), Saucha (que significa limpeza, pureza e claridade), prática de auto-superação (Tapas) através de exercícios de activação do agni (fogo digestivo), e alimentação consciente e saudável por meio da ingestão de frutas, legumes, leguminosas e especiarias (alimentação sátvica).


As toxinas são substâncias nocivas produzidas pelas células, seja de plantas, animais ou bactérias. No corpo humano, elas podem ser fabricadas pelas próprias células ou virem do exterior. O problema das toxinas é que, quando elas se acumulam, causam danos às células e aos tecidos. O nosso organismo produz toxinas o tempo todo, devido aos processos metabólicos que precisamos para sobreviver. O mecanismo pelo qual as nossas células obtêm energia, por exemplo, gera radicais livres, que são moléculas instáveis consideradas toxinas, pois podem causar danos às células ao acumularem-se no organismo. Também geramos inúmeras toxinas quando nos alimentamos, respiramos ou consumimos alguma substância tóxica.


O corpo humano tem mecanismos que lhe permitem neutralizar ou eliminar todas essas toxinas. Ao neutralizá-las, evitamos que elas atinjam níveis de propagação elevados, o que é prejudicial para os tecidos. Os dois órgãos mais importantes na neutralização e eliminação de toxinas são o fígado e os rins, por meio da urina e das fezes. É essencial que esses órgãos funcionem bem para que a purificação seja efectuada. No entanto, as doenças renais e hepáticas alteram o processo de desintoxicação e retardam a eliminação dos radicais livres, afetando o envelhecimento, por exemplo.


Os alimentos são uma importante fonte de toxinas. Não só pelas reacções que ocorrem dentro do corpo para processá-los, mas também porque elas vêm do próprio produto em si.

Os alimentos ricos em aditivos e gorduras contêm uma percentagem maior de toxinas. A mesma coisa acontece com as frituras ou os alimentos processados ​​em altas temperaturas. As substâncias poluentes, como os metais pesados, que estão presentes em alguns animais que comemos, também são consideradas uma fonte de intoxicação.


Caso o intestino grosso, e mais especificamente o cólon, não funcione correctamente para eliminar as toxinas, os resíduos acumulam-se no corpo, o que leva a graves problemas de saúde, isto porque o cólon desempenha um importante papel no organismo, estimulando o sistema digestivo, mantendo o equilíbrio de água no corpo e regulando a nossa imunidade. A principal função do cólon é remover as toxinas, mas para as conseguir eliminar, precisamos que os órgãos funcionem adequadamente, principalmente o fígado e os rins. Por isso, é muito importante a hidratação diária, a ingestão de mais verduras e frutas, bem como a prática de exercício físico de intensidade moderada, várias vezes por semana, que também ajuda a eliminar toxinas, para além de reduzir os níveis de stress, que parecem estar correlacionados.


Além do aumento de peso, o acúmulo de toxinas também causa doenças de pele, inchaço, dores no corpo, gases e dificuldades na defecação. O nosso corpo consegue eliminar algumas dessas impurezas, mas não todas, daí a importância de práticas de limpeza e purificação, que os yoguis consideram fundamental para desintoxicar o corpo/mente, como as 6 técnicas descritas no texto sagrado Geranda Samhita, de Shatkarma.





O movimento energético que auxilia na eliminação de toxinas


A energia criadora universal, ou PRANA, sustenta a existência, incluindo toda a vida no planeta terra. No corpo humano, a energia prânica circula livremente e regula todas as funções bio-energéticas. São 5 os movimentos energéticos que mantêm a vida e estas diferentes correntes de energia são chamadas de vayus, ou ventos.

Apana vayu é uma energia que se move na região abaixo do umbigo e controla a exalação, todos os movimentos de eliminação, menstruação, nascimento, ejaculação, as secreções intestinais e urinárias. O equilíbrio de apana vayu é essencial para os processos de eliminação, menstruação e parto saudáveis. É vivenciado como um movimento fluido bem profundo na exalação centrada nos intestinos.


É a movimentação que purifica. A sua função é "limpar" o corpo como um todo, por isso ele está ligado mais objectivamente as funções dos órgãos excretores, eliminação de urina, suor, lágrimas, sêmen, dióxido de carbono, menstruação, nascimento, no sistema físico, cuidando da imunidade também. Numa perspectiva energética, Apana Vayu é responsável pela expurgação de emoções negativas que afectam o corpo e a mente.


Nas práticas de yoga, trabalhar com este fluxo de energia, através de asanas (posturas psico-físicas), bandhas (selos energéticos) e pranaymas activos (técnicas de controlo respiratório), é fundamental para manter o corpo/mente saudáveis, facilitando os processos de eliminação, contribuindo, desta forma, para a manutenção de uma flora intestinal saudável, que é condição essencial para o equilíbrio do sistema imunitário.



Mas o yoga ensina muitas outras boas práticas para a eliminação da toxicidade do organismo, pois para os yoguis a iluminação, a libertação espiritual dos condicionamentos mentais decorrentes da existência física, só são possíveis com um corpo limpo e purificado e com uma mente clara e serena.


Os princípios por trás destas práticas têm a ver com os seguintes preceitos:


Saucha

Refere-se à limpeza e pureza, tanto do corpo físico como da mente. Como em tudo, partimos do mais grosseiro para o mais sutil. Limpamos para ascender a outro nível de consciência. O corpo físico é a nossa casa neste mundo e através dele podemos experienciá-lo. Tantas e tantas vezes, as questões do corpo, como as doenças ou dores, não nos permitem estar em paz, fazem-nos sofrer. É como uma casa entupida de coisas, acumulando poeira. A limpeza e higienização é a parte difícil, mas depois desta logo nos sentimos mais aliviados, mais livres. Então, preservar a limpeza do corpo, ainda que possa parecer uma preocupação extrema com o material ou supérfluo, é também um agradecimento por este organismo com que fomos presenteados.

No plano mais sutil da mente, Saucha é também fundamental, se queremos aumentar a nossa capacidade de concentração e foco. Se a mente é a lente pela qual captamos o mundo e se está cheia de poeira, é impossível observá-lo claramente, captamos somente uma imagem distorcida. Mas como limpá-la? Mais uma vez, através da observação dos nossos padrões, da forma como reagimos ao que nos rodeia. Por isso a prática de asanas é tão importante, ela pode ser um ponto de partida óptimo para esse caminho de auto conhecimento.

No dia-a-dia, tendemos a alimentar padrões repetitivos e negativos e quando tentamos focar na respiração, por exemplo, descobrimos que milhões de pensamentos nos assaltam e interrompem, muitas vezes sem controle. Á medida que a prática vai decorrendo, a mente fica mais clara, com menos oscilações e temos mais espaço para aproveitar o momento presente. Por isso nos sentimos tão relaxados depois. Limpamos nossa lente e o mundo parece mais simples.


Tapas

É muitas vezes traduzido como austeridade, mas a sua raiz traz a ideia do fogo que queima as impurezas e que ao mesmo tempo gera energia. Nenhum outro elemento tem a capacidade de transformar como o fogo. A água pode limpar, mas somente remove o que está a mais. O fogo liquefaz, molda, reduz ou dilata, podendo mesmo destruir. Neste sentido, é o fogo da autodisciplina, que torra as sementes dos samskaras, aqueles padrões que nos fazem agir condicionados por experiências anteriores, sem consciência ou atenção, e que parecem persistir mesmo contra nossa vontade, impedindo que estes germinem novamente. É o fogo da autodisciplina, que nos faz acordar antes do nascer do sol para praticar, que nos faz estudar sobre Yoga, que nos ajuda a purificar as nossas acções. É o fogo da vontade interior, aplicado positivamente. É também o calor produzido pelas práticas de Asana e Pranayama, que faz o sangue circular com mais força e eliminar bloqueios físicos, emocionais e energéticos.

É Tapas que nos leva à auto-superação, nos faz sair da zona de conforto para conhecermos os nossos limites, irmos um pouco mais além e descobrirmos que podemos dar muito mais. Isso não significa colocarmo-nos intencionalmente no sofrimento ou ignorar as dores que sentimos, sejam elas físicas ou emocionais. Esforço não significa forçar! Todos sabemos que os momentos de crise são uma oportunidade enorme de crescimento, mas não convém provocá-los. Talvez esse seja mais um dos benefícios do Yoga, aprendermos a diferença entre dor e desconforto, tensão e atenção.

A auto-disciplina de Tapas ajuda-nos a dominar o ego teimoso, que insiste em fazer o que sempre fez. Tapas é tão importante que é a primeira palavra do segundo capítulo dos Yoga Sutras. Neste primeiro sutra, Patanjali diz que Tapas, Svadhyaya e Ishvara Pranidhana (os seguintes Niyamas) constituem Kriya Yoga, o Yoga da ação. Ou seja, estes três Niyamas são acções práticas de auto-purificação, auto-observação e auto-conhecimento.



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