Ananda (sânscrito आनन्द, ānanda) é um dos termos-chave das escolas filosóficas Yoga e Vedanta que significa êxtase, bem-aventurança ou felicidade suprema, sendo frequentemente utilizado no hinduísmo. Ananda é composto pelo prefixo ‘a’ que indica um nível superlativo, e "nanda" que significa alegria, felicidade, contentamento ou deleite. Ananda refere-se à dimensão mais profunda e intemporal da felicidade, e não apenas a um grau mais elevado de alegrias que normalmente experimentamos na vida.
Na filosofia Vedanta, ananda é uma das três características do Absoluto ou Brahman: Sat (realidade), Cit (consciência) e Ananda (bem-aventurança).
A palavra ananda pode também ser referida a um dos níveis ou camadas do ser humano, de acordo com o Taittiriya Upanishad, e à vivência que pode ser alcançada em estados de samadhi (auto-realização ou iluminação) nos quais uma pessoa ultrapassou toda dualidade e se sente completa, ou seja, já não deseja mais nada.
Ananda é um estado de consciência não dualista, um estado unitário de sentir/conhecer/ver e ser, no qual experimentamos a essência, a paz e o deleite que é a base de toda a existência para além do tempo e do espaço. Não é, portanto, uma emoção de alegria ou felicidade momentânea que experienciamos com algum acontecimento, mas sim um sentimento de alta vibração que perdura. A emoção no sentido comum é um estado rajásico ou tamásico de turbulência ou apego de natureza transitória. A emoção é uma reacção dualista do ego e reflete os prazeres e os instintos corporais, bem como as interações sociais pessoais que consideramos atraentes ou repulsivas. Ananda está para além de todas as encarnações ou condições mentais, é uno com Atman (Eu testemunha) e através dele é uno com toda a existência.
Ananda não é uma negação da tristeza ou da dor, mas uma transcendência das mesmas. É uma plenitude de sentimento na qual podemos descobrir o nosso verdadeiro Eu em todos os seres e um significado eterno em todas as nossas experiências mutáveis. Aqueles que têm esta bem-aventurança interior não podem ser perturbados pela tristeza ou pela dor no corpo ou na mente. Podem experimentar tudo o que a vida tem para oferecer, extraindo a essência do deleite criativo por detrás do movimento universal a todos os níveis.
Anandamaya Kosha é o mais íntimo dos cinco koshas ou coberturas da alma encarnada ou Jivatman. Esta camada mais interna da experiência humana é o caminho para a felicidade profunda e a ligação espiritual. Experimentamos este kosha principalmente no estado de sono profundo, tocamo-lo sempre que sentimos felicidade, beleza ou deleite e transcendemo-lo como resultado de práticas espirituais regulares e consistentes. No entanto, a verdadeira felicidade e bem-aventurança transcende Anandamaya kosha e permite-nos encontrar harmonia em tudo. Anandamaya Kosha é um passo para pura Ananda, para além de todos os koshas.
Neste espaço sagrado, os indivíduos podem realmente conectar-se com o seu eu mais íntimo, transcendendo o comum e experimentando um estado de profunda alegria que se estende para além do reino físico.
Ananda, Shanti e Samadhi
A verdadeira felicidade surge de Shanti, paz interior, tranquilidade, serenidade, calma, contentamento e concentração. Se a pessoa não tiver paz interior, não será possível a felicidade verdadeira ou duradoura, embora as euforias emocionais possam existir durante algum tempo.
A verdadeira felicidade não é induzida por qualquer estímulo, substância ou actividade externa, incluindo qualquer tipo de droga ou entretenimento. É autocontida e manifesta-se espontaneamente, para além de qualquer karma externo, influências pessoais ou materiais. No entanto, toda a felicidade que experimentamos exteriormente é um reflexo ou sombra da eterna Ananda interior que é ilimitada.
No contexto de práticas mais profundas de Yoga, Ananda relaciona-se com Samadhi, o estado de consciência unitária, e é muitas vezes sinónimo deste. Segundo Vyasa, o comentador mais célebre dos textos sagrados Yoga Sutras de Patanjali, "Yoga é Samadhi", o controle completo (samādhana) das funções da consciência, que resulta em vários graus de aquisição interna da verdade (samapātti).
Samadhi Pada, o primeiro capítulo do Yoga Sutras, explica que o propósito do yoga é acalmar as flutuações da mente, chamadas "vrittis", de forma a experimentar a verdadeira natureza do eu através da prática do "samadhi", um estado de concentração profunda e meditação onde a consciência do indivíduo se funde com o objecto em foco, transcendendo a sensação de separação entre o observador e o observado.
Samadhi é o fruto colhido pela prática dos demais membros do Ashtanga (a metodologia yoga constituída por oito etapas/membros). Pela observância de Yama (restrições) e Niyama (observâncias), pela prática de Asana (posturas), Pranayama (respirações) e Pratyahara (desligar dos sentidos), e pelo Dharana (concentração estável num único ponto), pretende-se chegar ao Dhyana ("meditação") a fim de se atingir Samadhi.
Nirvikalpa Samadhi, o estado que transcende todas as actividades da mente, é também Ananda. O Eu interior que observa/testemunha a mente tem a sua própria Ananda, que permanece sempre em todos os altos e baixos da vida.
'Testemunhar' significa não estar envolvido, mas ver a acção. A testemunha ou Sakshi, em sânscrito, indica que somos o executor e também o observador, ou seja, tornamo-nos Bramhan, a consciência suprema. - Shri. N.V.Raghuram
Descobrindo Ananda Interior
Ananda só é possível quando vamos além da mente, pois não é uma experiência da mente cuja natureza é turbulenta e triste. O pensamento nunca nos traz felicidade, embora possa perseguir a felicidade. Só a consciência livre do pensamento o pode fazer. Ananda é a natureza da consciência pura e não uma flutuação da mente. Pura Ananda é um estado de Ser sentido quando tocamos o eterno para lá das nossas vidas, e não uma mera experiência no reino do tempo.
O nosso erro fundamental de consciência é confundir o prazer ou a felicidade que experimentamos nos objectos externos como a fonte do verdadeiro deleite, quando, na verdade, isso apenas nos permite experimentar a alegria interior reflectida no objecto. Podemos comparar Ananda com a arte. A arte ensina-nos a experimentar as essências mais profundas do sentimento e da sensação por detrás dos objectos exteriores. Uma taça de fruta sobre uma mesa não é uma taça de fruta sobre a mesa para um artista, mas um elemento de design que evoca uma beleza que transcende as suas formas constituintes. Ananda é a beleza e o deleite máximos que qualquer representação artística pode intimar ou evocar. Ananda é a essência última de todas as experiências de vida! Na verdade, se não sentíssemos algum grau de Ananda, não quereríamos viver de todo. Mas para realmente a experienciarmos, devemos ir ao âmago da nossa consciência, para além de todas as influências externas, ignorância da mente humana, do ego, das forças dualistas de atracção e repulsão e dos vícios.
Este é o objectivo do verdadeiro Yoga Sadhana (prática espiritual diária) e do cultivo do Samadhi, o estado yogui de Consciência unitária. A verdadeira felicidade habita dentro de nós se pudermos abandonar os apegos externos e regressar ao âmago do nosso ser que é um com todos. Tal tomada de consciência implica também estar disposto a abandonar a tristeza e a lembrar que Ananda é a nossa verdadeira natureza, mesmo na turbulência da mente ou das distrações no mundo exterior! Não procure apenas Ananda, recupere a Ananda dentro de si!
Práticas para Anandamaya Kosha
Anandamaya Kosha pode ser acedido e melhorado através de meditação dedicada. Eis alguns pontos a considerar:
1.º Respiração Consciente: A prática da respiração consciente da respiração leva a um estado de relaxamento profundo, ajudando a acalmar as flutuações da mente e promovendo uma ligação com a essência bem-aventurada.
2.º Técnicas de Visualização: Incorpore visualizações que evoquem sentimentos de alegria e contentamento, como visualizar uma luz radiante no âmago do seu ser durante a meditação.
3.º Mantra: Utilize mantras que ressoem consigo e com a essência da bem-aventurança. A repetição de afirmações ou sons sagrados pode criar mudanças vibracionais, promovendo uma ligação harmoniosa com este kosha.
4.º Meditação Centrada no Coração: Mude o foco para o centro do coração durante a meditação. Imaginar um espaço cheio de amor e gratidão pode abrir a porta para a profunda alegria nele encapsulada.
5.º Prática regular: A consistência é fundamental. Incorpore a meditação na sua rotina diária para aprofundar a ligação ao longo do tempo. A prática regular permite uma experiência mais profunda e sustentada do invólucro bem-aventurado.
Boas práticas!
Om Sat Cit Ananda
MJ
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