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A psicossomática do coração



Todas as reacções emocionais colocam o organismo em movimento, accionando, em primeiro lugar, uma mudança no ritmo cardíaco e respiratório. Mas os sentimentos cuja origem reside na raiva, ansiedade e medo, destacam-se como potenciadores de somatização de problemas cardíacos, pois, dada a resposta neuroendócrina, que prepara o organismo para a luta ou a fuga, o coração e os pulmões sofrem uma aceleração e aumento do volume para conseguir responder à situação.


No entanto, o espaço torácico, que inclui, sobretudo, o coração e os pulmões, é, de acordo com a perspectiva psicossomática, onde residem os sentimentos de amor e segurança emocional. Ao nível metafísico, este espaço trata da capacidade de dar e receber amor, e o sangue bombeado pelas contracções do músculo cardíaco representa a alegria da vida. Aquele que ama, cujo coração está suficientemente preenchido com esse sentimento, vive com alegria.


Os pesquisadores no campo da medicina psicossomática estão confiantes de que as doenças cardíacas se desenvolvem quando uma pessoa, consciente ou inconscientemente, rejeita o amor e/ou recusa a alegria. Não admira que o retrato psicológico de um adulto com doenças cardíacas confirme isso: a pessoa pode tornar-se insensível, indiferente e, até, cruel às experiências e sentimentos das outras pessoas, fazendo jus ao dizeres populares: "tem um coração de pedra", “olhos que não vêem, coração que não sente”.


De facto, há registos históricos ancestrais que mostram o reconhecimento do coração como filtro das emoções, por parte dos povos antigos. Para os maias, astecas, egípcios e hindus, entre outros, o coração é o centro da vida e da renovação.


No Hinduísmo é o lugar onde reside Brahman e Krishna. Dentro dele oculta-se o Self, a semente, e nele tudo está contido. Para a filosofia Tantra Yoga, o coração é a fonte da força do amor, ao mesmo tempo que une o espaço do nosso eu físico e espiritual no sistema de chakras tântrico. É nele que se interligam os opostos masculino e feminino, e, quando este núcleo é desperto, ocorre uma maior sensibilidade ao sofrimento e uma maior harmonização entre o indivíduo e a natureza, desenvolvendo-se uma personalidade mais autêntica. Entre os astecas, maias e egípcios, liga-se ao arquétipo do Pai, enquanto sol, o centro do nosso sistema solar, de onde vem o calor e a vida. Nas tradições médicas chinesa e japonesa, o espaço do coração é onde as energias do céu e da terra se fundem. Já na filosofia taoísta, compreende-se o coração como o lugar da consciência celeste; é do coração que se origina o sentido da vida. Com perspectiva semelhante, os relatos do Antigo Testamento apresentam o coração como lugar da mente e da vida intelectual, como sede dos sentimentos e como centro da vida moral e religiosa, lembrando aos fiéis que o caminho é o da renovação e desenvolvimento de um coração autêntico e puro, que busca a plenitude da presença divina para suprir a dor da ausência. Tal exortação apela à capacidade de flexibilização e aceitação das mudanças e do novo, saindo do modo rígido e estanque de se viver; é um entregar-se.


O peito e o espaço ao redor do coração são locais altamente potentes no nosso corpo. O coração, órgão essencial do corpo humano, bem como as emoções nele projectadas ou por ele expressas carregam importante simbologia. Seria um equívoco tratá-lo tão somente como um órgão, separando soma e psique, corpo e emoção.


Esta zona do corpo está frequentemente relacionada com sentimentos poderosos de amor, compaixão, gratidão, aceitação. Mas quando em tensão, bloqueio ou doença, os desequilíbrios no espaço torácico e cardíaco podem estar associados a sentimentos de mágoa, angústia, pesar, tristeza e depressão, trazendo maus resultados para a saúde mental ou mesmo problemas cardíacos.


A tristeza não expressa e não libertada tende a acumular-se na região superior das costas. Como essa área fica próxima ao coração, é também onde ficam armazenadas as emoções ligadas ao desgosto e à perda. Por exemplo, se carrega a dor pela perda de um ente querido, provavelmente há tensão nesta zona.


Os sentimentos associados ao coração estão intimamente relacionados com o ritmo cardíaco, que, diante de uma ameaça, dispara, regressando ao ritmo normal quando sente novamente a segurança. Quando uma criança chora com medo, ao ser acolhida pela tranquilidade dos braços maternos, geralmente também se tranquiliza e o seu ritmo cardíaco restabelece-se.


Os sintomas de taquicardia, dores, aperto no peito ou de uma angústia inexplicável podem estar relacionados a situações de sofrimento, tais como perdas, solidão, stress, dificuldades de relacionamento e todos os factos da vida com os quais o indivíduo tem dificuldade em lidar.


Pode-se fazer uma analogia entre os sintomas e os movimentos cardíacos de sístole (contracção) e diástole (relaxamento): um coração oprimido, contraído, fechado em si mesmo, estará cego perante o simbolismo da sua sintomatologia, podendo, inclusive, projectar noutra pessoa tudo o que lhe é incómodo e difícil de aceitar. Por sua vez, um coração relaxado, que se dilata e expande, é um coração acolhedor, que assume a responsabilidade pelo próprio destino, que compreende a doença como oportunidade de reflexão e mudança.


Até mesmo a atitude corporal indicia a atitude emocional: uma postura fechada, com os ombros descaídos e uma curvatura dorsal são características de uma pessoa que sofre com falta de amor (amor-próprio ou sentimento de falta de amor por parte de outros). Aliás, a dor no meio das costas (na zona dorsal) é associada a sentimentos de desamparo, desespero e impotência, motivados pela percepção de falta de apoio por parte de outras pessoas ou pela vida.



É inevitável concluir que, ser perceptivo às sensações físicas do nosso corpo ajuda-nos a estabelecer ligação com as nossas capacidades emocionais. Se uma pessoa sofre constantemente de stress ou se deixa influenciar por emoções negativas e destrutivas como a raiva, ressentimento, inveja, ciúme, então existirá cada vez menos espaço no seu coração para um sentimento tão natural como o amor. Como resultado, ao nível do sistema nervoso central, muitas mudanças ocorrem na regulação da actividade dos vasos sanguíneos e válvulas cardíacas, o que pode levar ao desenvolvimento de bloqueios e/ou patologias.


De acordo com a medicina psicossomática, as doenças do coração e do sistema circulatório e sintomatologia específica, têm uma explicação geral, embora em cada caso seja necessário um diagnóstico e trabalho individual. Ficam alguns exemplos:

  • Taquicardia - raiva, ansiedade, insegurança, excitação intensa por ninharias, estado psiconeurótico.

  • Aterosclerose - oclusão vascular e colesterol alto são característicos de pessoas que não conseguem desfrutar da vida e das suas particularidades, que acreditam que o mundo do amor é indigno e injusto.

  • Hipertensão - a incapacidade de expressar emoções que se acumulam e "pressionam" os vasos de dentro, reprimem a agressão.

  • Arritmia, fibrilação atrial – Medos, ansiedade, irritabilidade.

  • Doença arterial coronariana - Completo bloqueio de si mesmo da esfera sensual, amor, negação, ódio por alguém, longa existência sob stress, existência sem alegria.

  • Doença cardíaca congénita - O grupo mais difícil, que alguns pesquisadores associam com a falta de amor da mãe durante o período de gestação, principalmente nos estágios iniciais, ou entre crianças indesejadas, em relação às quais as mães desejavam ou planeavam abortar.


Seja criança ou adulto com um coração doente, ambos precisam de emoções positivas, sentimentos de alegria e uma compreensão de que são amados.




Práticas de yoga para amenizar o peso no coração


Uma técnica de respiração que sustenta muitas práticas de bem-estar é a respiração torácica. Expandir lateralmente as costelas flutuantes enquanto inspira e relaxar os músculos intercostais enquanto expira, pode ser uma maneira suave, mas transformadora, de abrir espaço na caixa torácica para os movimentos do coração e pulmões. É uma prática de equilíbrio de Hatha Yoga e Qigong que visa combater especificamente o stress, a ansiedade e a depressão. Para aprender a mecânica deste tipo de respiração pode ser útil colocar as mãos nas laterais da caixa torácica, logo abaixo do peito, para sentir a expansão e a contração a cada respiração.



A saudação ao sol, pela sua componente de activação dos sistemas cárdio-respiratório, é uma das práticas mais importantes no Hatha Yoga.



Na execução de posturas, destacam-se todas aquelas que ajudam na expansão da caixa torácica e na promoção da mobilidade das vertebras dorsais, tais como as da seguinte imagem, apenas para enumerar algumas.



O coração é a sede da vida e do amor, mas também pode ser do desespero, do medo e dos tormentos. A poesia e a música utilizam constantemente a metáfora do coração para falar das paixões. Os namorados fazem uso de portas, mesas, paredes, árvores e bancos dos jardins para cravar as suas iniciais dentro de um coração. A sabedoria popular eterniza a relação do coração ao sentimento em inúmeros provérbios: "O que os olhos não vêem o coração não sente", "Mãos frias, coração quente", "O coração tem razões que a própria razão desconhece" e até "Quem vê cara não vê coração".


É inegável a sua importância fisiológica e simbólica!

Que consigamos abrir os nossos corações para dar e receber amor e alegria, conectando-nos à fonte divina e infinita!


Com amor,

Maria João

YPP

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