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Foto do escritorYoga PuroPrana

A experiência somática

Atualizado: 1 de out. de 2024


Qualquer pessoa, num dado momento da sua vida, teve uma experiência dolorosa e marcante, mesmo que não tenha sido traumática. Essas experiências marcantes não subsistem apenas na memória, mas também nos músculos, órgãos e sistema nervoso.


O stress crónico, a ansiedade ou a depressão são bons exemplos de uma experiência de dor/sofrimento. Essas experiências sensoriais, que na maior parte das vezes são processadas de forma inconsciente, trazem consequências para o corpo, nas suas várias camadas, manifestando-se em diferentes graus de intensidade.


No entanto, o corpo físico, o nosso veículo corpóreo, é o que acaba por armazenar o resultado dessas experiências, expressando-as em rigidez, dor física ou doença, como resultado de um bloqueio energético aprisionado nas estruturas fisiológicas e biomecânicas. Quando essa energia estagnada é em excesso surgem as alterações no sistema nervoso que conduzem a estados de doença psicofísica.


O sistema nervoso é a via de comunicação entre o cérebro e o corpo. É responsável por controlar e coordenar todas as funções corporais, incluindo o movimento, a digestão, a cognição, a sensação, a respiração e as emoções. Quando o sistema nervoso fica desregulado devido ao stress prolongado, trauma, doença crónica ou exposição contínua a um ambiente negativo, há uma interrupção na comunicação entre o cérebro e o corpo, deixando-nos emocionalmente instáveis, altamente sensíveis e com alterações de humor, facilmente frustrados mesmos com coisas de menor importância e sobrecarregados com pequenas tarefas. Também podemos sentir problemas intestinais, pensamentos ansiosos, tensão muscular, confusão mental, baixa energia, preocupação excessiva, sensação de desconexão e dor física inexplicável.


Regular o sistema nervoso implica fazer com que o organismo deixe de viver na sua resposta biológica ao stress e comece a formar novas vias neurais. E o caminho mais simples para a regulação do sistema nervoso a longo prazo é a terapia somática ou exercícios somáticos.


Somático deriva da palavra grega sōma referindo-se a tudo o que é relativo ao corpo, à substância corpórea, viva ou morta, em contraposição ao espírito. No contexto da psicologia, o somático refere-se à conexão entre o corpo e a mente, reconhecendo que as nossas experiências emocionais e psicológicas estão intrinsecamente ligadas às sensações físicas que experimentamos. O campo do somático estuda essa interacção e procura compreender como as experiências corporais podem influenciar a nossa saúde mental e bem-estar geral.


Ao prestar atenção às sensações físicas que experimentamos, podemos obter insights valiosos sobre os nossos estados emocionais e psicológicos. Por exemplo, quando estamos ansiosos, podemos sentir uma sensação de aperto no peito ou uma aceleração do batimento cardíaco. Essas sensações físicas são sinais de alerta do corpo sobre o nosso estado emocional.


A abordagem somática envolve uma série de técnicas e práticas que visam ajudar as pessoas a conectarem-se com os seus corpos e a tomarem consciência das suas sensações físicas. Essas técnicas podem incluir exercícios de respiração, movimentos corporais, meditação, massagem terapêutica e outras práticas que promovem a consciência corporal.



Movimento somático. O que é?


Qualquer movimento pode ser considerado uma prática somática, desde que o façamos com plena atenção, conscientes do estado interior, movimentando de forma intuitiva, o mais lento possível.


O movimento somático permite trazer à luz da consciência os registos psico-emocionais que se manifestam no corpo físico, pois essas manifestações ou sintomas somáticos têm, geralmente, uma origem psico-emocional não processada, não consciente, resultante de uma desregulação dos sistemas nervoso, límbico e endócrino como mecanismo de defesa do Eu.


Movimentar o corpo de forma consciente promove o desbloqueio das energias estagnadas e ajuda a regular o sistema nervoso, aliviando muitos sintomas físicos, como dor, tensão e rigidez.


Uma experiência somática pode aprofundar o nível de autoconsciência e aumentar a conexão corpo/mente/espírito, para compreender as necessidades pessoais, criando um espaço de segurança, confiança e entrega. Também traz benefícios ao nível biomecânico e fisiológico, tais como melhoria na flexibilidade, equilíbrio, mobilidade, postura e redução da tensão, stress, desconforto ou dor.


Criar esse espaço através de movimentos somáticos é acolher uma parte de nós que precisa ser amada e cuidada para que possa ser curada. É abraçar a nossa criança interior e confortá-la com carinho e amor incondicional, compreendendo e aceitando-a tal como é. Aqui não há espaço para a razão, o julgamento e a autocrítica. Apenas curiosidade! A curiosidade própria da criança dentro de nós que queremos resgatar e honrar!


É, portanto, um processo de fortalecimento da relação connosco próprios, com repercussões na relação com os outros, pois, através da autorregulação do sistema nervoso, eu crio espaço para que os outros, com quem me relaciono, consigam fazer o mesmo.



A experiência somática através do yoga



O yoga promove uma prática reflexiva e introspectiva que vai além da execução mecânica de posturas, convidando os praticantes a dialogarem com seus corpos. A ênfase na percepção corporal interna, no movimento consciente e na respiração contemplativa que acontece durante a prática de yoga, encoraja-nos a mergulhar profundamente nas subtilezas das nossas experiências psicofísicas, fazendo com que esta prática se torne uma ferramenta poderosa para a autodescoberta e o crescimento pessoal.


Os seus movimentos suaves combinados com técnicas de respiração consciente criam um santuário para o processamento mental e para o relaxamento do sistema nervoso, pois a exploração somática através do yoga pode desenvolver uma maior compreensão dos nossos padrões mentais e das respostas emocionais, levando a uma vida mais consciente e plena.



 

Quanto mais autossegurança e autoconfiança na conexão comigo através do meu corpo, menor é a probabilidade de repetição de padrões de comportamento como respostas automáticas a situações de stress.

*

Quanto maior a capacidade de autorregulação do sistema nervoso, através da autoconsciência da mente/corpo, maior a probabilidade de ressignificação da reacção a estímulos desencadeadores de respostas traumáticas.




Sugestões de leitura de autores e pesquisadores na área do trauma e da terapia somática:

  • Peter Lavine

  • Thomas Hannah

  • Gabor Maté

  • Stanley Keleman

  • Moshe Feldenkrais

  • Frederick Matthias Alexander



Boas investigações!

Namaste.

MJ

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